Sem olhar para o relógio, sem fazer cara de aborrecido, sem ver o telemóvel, sem bocejar, sem tiques de impaciência.

Até ao fim, sem interromper para falar das tuas coisas, sem achar que tens uma solução brilhante, sem pressa de arranjar desculpas.

Não te apresses a dar conselhos. Primeiro, ouve.

A semana não correu bem. Perdeste tempo ou trabalhaste mal, foste indelicado ou foram-no contigo, rezaste pouco e distraído, andaste só à volta de ti próprio ou das coisas materiais, foste destemperado...

E a consciência da tua fraqueza deixa-te numa tristeza que te quer agarrar e arrastar mais para baixo.

Não deixes. Pede perdão a Deus agora e recomeça com alegria. Ele espera-te em cada batalha, mesmo se O desprezaste na anterior.

Mantém uma luta viva e desportiva nas coisas pequenas.

Sempre indignado! Já não compreendes, já não sugeres, já não desculpas, já não ajudas. Já não duvidas do teu juízo. Indignas-te.

Que assim não pode ser, que estás farto, que já sabias, que tinhas avisado, que não te ouvem. E pisas forte, perfeitamente convencido que tem de ser como tu achas.

Quando já ninguém te quiser ouvir nesse tom, chegarás à conclusão de que foste apenas um obstáculo: não ajudaste a corrigir, não ensinaste ninguém, não fizeste melhor. Desprezaste toda a boa vontade que havia da outra parte e deixaste o ambiente pesado.

Tu até tens talento, era bom contar contigo. Vê se aprendes a ser amável.

Ninguém, ninguém. Não digo. Mas, na verdade, não é assim tão difícil que o descubras. 

À partida, se és católico, não tens convicções contrárias à fé e doutrina católicas. Não porque eu o digo, mas porque acreditas na autoridade de Deus, que se revelou em Cristo. E confias na Igreja a quem Cristo entregou o depósito da fé e da moral.

Podes ser um católico dissidente, rebelde? Se não acreditas na missão da Igreja ou na divindade de Jesus, sim. Mas nesse caso...

Vives para os outros. Sem orgulho, porque sabes que te é natural a virtude que os outros louvam.

Mas levaste longe demais a responsabilidade e inquieta-te perceber que não consegues chegar a tudo. Carregas um peso que não é para levar só. Partilha a carga, passa o testemunho, deixa-te ajudar.

Não é fugir das obrigações, não é falta de generosidade: é o fruto maduro do teu serviço.

Precisas de ajuda. Apoia-te, humilde e simples, nos que te querem amparar.

É um truque, não é? Não tens muitas ideias sobre o tema, mas queres levar a conversa para um terreno em que te sentes seguro. É melhor picar, tentar atrapalhar, não vá o assunto tornar-se sério e não sabes o que responder. Melhor ainda se for em grupo: ninguém fica bem quando responde corado.

E assim parece que o sexo é o grande tema do cristianismo, a sua obsessão, o grande problema, a pedra no sapato.

Não é.

Não provoques, conversa. Talvez te surpreendas com a ideia católica de sexualidade, talvez percebas que afinal sabes menos do assunto, na teoria e na prática. Talvez descubras um horizonte novo que traz luz sobre o teu namoro, a tua família, as tuas amizades, o teu coração, o teu futuro... Sobre ti próprio.

Sim.

É legítimo dizer que os católicos nem sempre acertaram no modo de comunicar. É legítimo e importante procurar fazê-lo melhor.

Mas seria ingénuo pensar que as técnicas humanas de comunicação derrubam qualquer obstáculo ao Evangelho. Que suavizar a mensagem, apresentá-la com sofisticação, converteria o mundo inteiro.

Há quem esteja contra Cristo porque não O compreende. Outros porque O compreendem perfeitamente.

É bonito o teu desejo de dar luz aos outros. Mas o que Deus pediu para dares foi a própria vida.

Foi bom ires. Rezaste, choraste, consolaste a família, pensaste na vida e na morte.

Mas encontraste pessoas que não vias há séculos. E em vez de sair para conversar, ficaste em amena cavaqueira ao lado do morto e dos mais próximos.

Talvez seja o próprio de uma cultura sem fé. Mas tu, que sabes porque vives e o que queres na morte, podias aproveitar para dar outro testemunho: de fé na vida eterna, de confiança na oração, de necessidade de conversão.

Conversa lá fora! Dentro, reza. Para não começar aquela tertúlia em que parece que o único que está a mais é o morto!

Foi tão difícil começar, que esperavas mais certezas. Mas às vezes parece que a insegurança aumentou. Não sabes se ele te percebe, não percebes porque não o diz, não sabes se deves insistir.

E estás cansada de ser mãe dele! Como é possível ser tão trapalhão? Será assim tão básico? Será, então, o certo?

E, no entanto, nunca te vimos tão bem. Não conhecíamos o melhor de ti que, nesse esforço, veio ao de cima. Andas serena, focada, simples.

Não te queixes tanto. Para ti é desafiante, para nós é divertido, para ele é novo, para Deus uma alegria.

Sempre! Ele até se esforçava por chegar a horas e garantir um desses lugares. Aqui de trás controlava tudo, via quem estava, de quem era o telemóvel que tocou, quem queria cumprimentar no final. Dominava a nave com o conforto de não estar a ser visto.

Um dia experimentou ir lá para a frente. Não viu ninguém, não se distraiu, reparou com nitidez no que se passava no altar, descobriu um retábulo que inspirava devoção. Rezou.

Na Missa, senta-te onde quiseres. Mas talvez sejas daqueles a quem um bom lugar ajuda.

Se já tinhas pouco tempo, agora estás a dar em doido. Só querias um momentinho, quieto, para ver os golos da jornada. Mas exigem-te coisas que tu nem sabias que podiam ser importantes para alguém.

Estavas contente por ter quem que te compreendesse e afinal és tu que não compreendes o alcance do que não disseste, da cara que fizeste, do que não te lembraste.

E, no entanto, nunca te vimos tão bem. Não conhecíamos o melhor de ti que, nesse esforço, veio ao de cima. Andas responsável, atento, sereno.

Não te queixes tanto. Para ti é desafiante, para nós é divertido, para ela é querido, para Deus uma alegria.

És rápido, eficaz, eficiente, despachado. Ele não.

Ele não é uma máquina, nem vai ser.

Em vez de desesperar, suspirar alto, reclamar e querer fazer tudo, aprende a trabalhar em equipa.

Talvez esse humano te ensine a estudar, a tomar o tempo certo para decidir, a estar atento às outras pessoas.

E os dois juntos... que máquinas!

Tens um grande desejo de estar onde estão todos. E lá vais!

Mas passas o tempo em tensão, com a sensação contínua de que te estão a observar, a avaliar, a medir. Tens medo de não estar à altura, de não encaixar. Encenas gestos e atitudes de quem está à vontade, desesperas por momentos se ficas só.

Complicas-te porque tens medo que te façam o que fazes tu aos outros: julgas, comparas, competes. Para quê?

Procura amizades pessoais e profundas. Procura oportunidades de servir os outros. E já não terás tempo para andar obcecado por ti.

É um dom. Pede-o, deseja-o, mas não o exijas.

Não é um prémio, não tens que o merecer. Não é teu, é de Deus.

Não é mercadoria, não o podes comprar. Não é descartável, não o podes abandonar. É livre, não o podes prender.

Aceita como missão os filhos que Deus te der. Confia se a tua missão for não os ter. Deixa-O fazer o plano e enche-te de amor: primeiro para acolher, depois para deixar ir.

Mas se não comprasses, poupavas ainda mais.

Usas desculpas para ter mais, para ter o que os outros têm. Para ter coisas novas, que não precisas, mas te ocupam o tempo e te dão uma alegria efémera.

Quantas vezes justificaste um gasto de dinheiro com razões de necessidade, de eficácia, de oportunidade, e pouco depois deixaste o brinquedo novo arrumado a um canto?

É bom viver com pouco, mesmo que possas ter muito. És mais livre, mais alegre, e tens mais tempo para o que vale verdadeiramente.

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