Tema: Pobreza

Impressiona-te a vida dos mártires. Invejas aquele amor firme que os leva até à morte e sabes que não existe outro modo de amar. Darias a vida por Cristo.

Darias?

É que no dia a dia só te preocupas em parecer moderado. Inventas razões morais para fazer o que todos fazem. Tens tanto medo que te chamem exagerado que ninguém percebe que te entregaste a Jesus.

No fundo, ainda achas que não compensa entregar o que dói: Deus não pede isso.

Mas não era tudo?

Estás rodeado de pessoas, no meio da atividade mais intensa, entre projetos e ideias que te saem bem. E mesmo assim, tens momentos de uma solidão insuportável.

Puseste a tua expectativa no que sabes fazer e na aprovação dos outros. Em manter constante o nível de entusiasmo que te motiva. E continuas a estar só.

Enfrenta essa solidão, sem procurar distrações. Fazes bem coisas boas, mas isso é insuficiente: falta Deus.

Jesus Cristo, que vais esquecendo entre tanta agitação, quer preencher essa solidão. Para voltar a conquistar-te quando trabalhas para outro senhor.

Não tens uma vida santa, não és humilde nem generoso. Não tens um coração limpo nem os afetos no sítio. Não és pobre nem desprendido. Não vives a caridade. Não tens uma fé forte, não vives de esperança.

O melhor é vires tu próprio, para que o Menino te dê tudo isso.

E com o desejo contrito de O receber bem a partir de hoje, farás, de um lugar frio, o quente berço do teu Deus.

Agradece várias vezes. Agradece tudo. Alegrias, necessidades, sofrimentos, conquistas. Tudo é dom, oportunidade, redenção.

Quando nos reconhecemos precedidos pela graça, a nossa oração é agradecida.

E uma alma agradecida é alegre e humilde.

Já não sabes o que fazer. Ficaste numa posição difícil e sentes-te com poucas forças.

Entra numa igreja e deixa tudo aos pés de Jesus Sacramentado. Amanhã, faz o mesmo. E volta a fazer depois.

Talvez tenhas luz. Talvez força. Terás –de certeza– companhia.

Comovem-nos os exemplos de dedicação aos mais necessitados. São bonitas as imagens de mãos que cuidam, os sorrisos das crianças, as lágrimas de quem consola, o entusiasmo dos voluntários.

Mas coube-te cuidar de alguém. Mais por obrigação do que generosidade. E é duro. Fisicamente é muito pesado. Não sobra tempo para as tuas coisas. Cuidas de quem não te vê, porque não pode ou não quer ver. Nem sempre te agradecem ou reconhecem essa ajuda. Fazem coisas que te envergonham, humilham e atrapalham. São doenças que não compreendes e atitudes que te magoam. Sem esperança de melhorar no futuro.

Agora vê-te Deus. E sorri diante dessa fidelidade, que Ele próprio vai querer premiar. Confias?

Dá-nos paz ter tudo controlado. Saber o que queremos, conhecer os passos para o alcançar, dominar as ferramentas. Planear com certeza e cumprir o planeado.

Mas com as responsabilidades, a vida complica-se,  enriquece-se. Deixamos os outros entrar, baralhar os esquemas. Pedem de nós o que não é o nosso forte. Somos testados onde tememos falhar.

E os imprevistos: a saúde, o emprego, os mal-entendidos, o dinheiro, a chuva...

Perdemos a paz. Não aconteceu nada de errado, só não está controlado, fechado, seguro. Não consegues fazer planos.

Aceita agora essa intranquilidade da incerteza. E dá um passo de cada vez agarrado a Deus: a tua única segurança.

O Menino que esperamos é Deus todo poderoso. Quis nascer frágil, pobre, pequeno, para nos mostrar que Deus é a nossa fortaleza.

Também eu sou frágil. Mas, junto ao Menino, sou forte! E no regaço carinhoso de Maria. E nos braços seguros de S. José.

Podes ser quem dá mais, ou quem vive com menos. Podes ser famoso pela tua generosidade.

Mas só serás pobre quando fores desprendido das coisas materiais. Muitas ou poucas, todas. Só serás pobre quando aceitares dar o teu lugar aos outros. Só serás pobre quando a tua confiança estiver em Deus. Exclusivamente.

Não olhes para o lado. Serás pobre quando a pobreza te custar. Assim vives como viveu Cristo.

E, além de pobre, serás feliz.

Reconhece a tua pobreza, diante da riqueza de Deus. Repara em todas as coisas boas que te dá. Sê agradecido. Tudo vem gratuitamente Dele, não de ti. Não é direito teu. Nem mérito! Agradece-Lhe tudo, mesmo o mais pequeno e aquilo em que já nem reparas. A vida, a família, os amigos. As coisas simples, a beleza. O Amor que recebes e que podes dar. E agradece também o que te custa, mas sabes que te aproxima de Jesus. Agradece até o que não queres, porque só com Deus vais conseguir aceitá-lo. E não te esqueças de agradecer o perdão: a nova oportunidade que Jesus te dá, sempre que foste mal agradecido.

Não se trata só de ter pouco, ou dar muito. É não ter outras seguranças além de Deus. Dá o que te custa: a esmola, o tempo, a atenção. O que faltar, Deus porá. Ou não confias?