Andas de um lado para o outro. Quando paras, é a cabeça que continua: sempre mudar de preocupação, ora entusiasmado, ora triste, a imaginação solta para pensares em ti próprio, e de novo para outros mil assuntos.

No meio desse caos, vais vendo Jesus. Está aí. Mas entra na tua cabeça como mais uma coisa, que esqueces rapidamente para pensar em muitas outras. Ou nenhuma.

E começas a notar que não estás verdadeiramente com Deus. Não Lhe dás tempo, não Lhe dás atenção, não Lhe dás o esforço da amizade. Nem quando rezas.

A tua vida mudará muito quando dedicares tempo à oração, diariamente, fazendo silêncio exterior e interior, deixando para depois o que não é diálogo.

Enfermeiro, médico, assistente, cuidador... cuidas do corpo, lidas com a morte, proteges na dor.

Por tanto que te agradecem, dás-te conta do peso que tens na vida de muitos. E que bem podes fazer!

Cuidar do corpo é muito. Mas é pouco quando tens cabeça, coração e alma para cuidar. Como cuidas destes se não cuidas de ti?

No meio dessa rotina agitada, volta sempre a Jesus, o cuidador. O que por ti suportou todas as dores, o que venceu a morte dando a vida. O mesmo Cristo que os outros esperam ver quando cuidas deles.

É bom estar contigo. Tens jeito para fazer as perguntas certas e mostras verdadeiro interesse.

Mas perguntas o mesmo uma e outra vez, como se fosse a primeira. É que não ouves. Já não te lembras que o perguntaste, não fazes ideia da resposta.

E aquele bom sentimento de amizade estraga-se com a dúvida do desinteresse.

Não deixes de perguntar, mas interessa-te mesmo. Ouve, detém a atenção, pensa no que te dizem, guarda no coração. A amizade é uma virtude, não é um só uma competência.

Mas é preciso ir ao limite? Ou só queres saber o que é pecado, para poder chegar o mais perto possível?

Se não gostas, não bebas. Se é para te armares em forte, deixa de ser ridículo. Se precisas de te embebedar para desfrutar, procura o que te traz uma alegria verdadeira. A do álcool é falsa.

É insensato, irresponsável e egoísta beber para perder o controlo sobre ti próprio. É insensato, irresponsável e egoísta desculpar-se com as ocasiões especiais.

Sem esse controlo podes fazer mal a ti e aos outros. Não percebo que amor é o teu quando escolhes livremente correr esse risco.

Bebe, desfruta. E quando isso prejudicar a tua capacidade de servir, para. Se vês a tontura a chegar, pede um suminho.

Recorre a São Miguel nas tentações mais difíceis. Pede a São Gabriel a fidelidade à vocação. Confia a tua juventude nas mãos de São Rafael.

Conta com o teu anjo da guarda para tudo. Fala-lhe mais vezes, pede mais ajuda e proteção. Ele está sempre atento e nem sabes de que perigos te tem guardado.

E junta-te aos anjos que louvam Jesus na Eucaristia cada vez que participas na Missa. Chama-os para honrar contigo o Senhor da criação que quer vir à tua alma.

Dá-lhes trabalho.

Estás sempre a queixar-te. Até tens razão, mas é tão difícil estar contigo...

Nunca és positivo, nunca vês o esforço dos outros. E nunca queres verdadeiramente corrigir aquilo de que te queixas. Ias queixar-te de quê?!

Quando fazes melhor, fazes com má cara. Quando fazes pior, é porque não tens condições. Quando fazes sozinho, os outros são inúteis. Quando te querem ajudar, preferes fazer sozinho.

Repetes mil vezes que não vale a pena... Mas isso é o contrário da luta cristã. Vale a pena, sim. Vale a pena.

Que te deixa a duvidar se esse cuidado todo é apenas vaidade. Que te leva a procurar quem diga que estamos a exagerar. Que até te indigna, mas deixa a pensar...

Tantos cuidados com a imagem! O que procuras? O que esperas? Elogios? Seguidores? Versos? Convites? Amor?

Na tua preocupação pelo aspeto há muito de simplicidade, de justiça, de caridade. Como pode haver de vaidade, egoísmo, sensualidade.

Pensa, pensa... O verão fica-te mesmo bem. A discrição também.

Luta por amor. Não lutes para cumprir ou para estar à altura.

Pede mais ajuda, confia mais em quem te conhece. Não faz mal que descubram as tuas fraquezas.

Não te compares com os outros. Não interessa ser o melhor.

Confia mais na oração e na graça de Deus. Não confies nas tuas forças.

Sem humildade vais dar uns trambolhões valentes. Com humildade talvez dês também, mas aprendes a levantar-te.

...e que cuidas do que nos foi dado, que te preocupas com a conservação das espécies, que te choca o desperdício, que queres controlar a exploração humana dos recursos naturais, que lutas com garra pelas gerações vindouras...

Já que amas a natureza, respeita os corpos do homem e da mulher.

Não explores, não desperdices, não roubes, não estragues, não sujes, não comprometas o futuro. E não inventes.

Se amas mesmo a natureza, chegarás a Deus pelo corpo que Ele te deu.

Usas a casa. Fazes o frete das refeições com os outros, mas não estás com paciência para perguntas. Não sabes o que falta fazer e quando sabes nunca o fazes.

Não vês quem está cansado, ou doente, ou teve um mau dia. Estás ocupado com as tuas coisas. A tua família vê-te (às vezes), mas não sabe de ti.

Reaprende a servir -primeiro!- aqueles que Deus te confiou. Por dever e muito além do dever. Não tens nada mais valioso a construir que a tua própria casa.

Não digo que desates hoje aos beijos e abraços. Mas um ou outro...

Não tens um momento de silêncio. Foges.

Estás todo o dia a consumir conteúdos. Alguns interessantes, outros ridículos. Sem te dares conta, o que procuras é a quantidade.

E esse zumbido constante vai calando a voz da consciência. Porque fala mais alto, substitui qualquer coisa, tem autoridade. E sem momentos de silêncio, deixas de reconhecer Deus.

A meditação de Deus e dos seus mistérios far-te-á generoso. É disso que precisas, antes de ser interessante. Não fujas do silêncio: procura-o.

Acabaram de se conhecer, chegaste agora a esse grupo, és novo na empresa... Pode chocar e não há contexto.

Um mês depois ainda ninguém sabe da tua fé. Ainda estás a formar uma imagem. Desconfias que são ferozmente contra a Igreja.

Passou um ano e não és capaz de dizer a ninguém que és católico. Era assumir escolhas muito mal vistas. E agora seria estranho descobri-lo ao fim de tanto tempo. Pareceria que o estiveste a esconder.

É porque escondeste. Se amasses Jesus, agias simplesmente com naturalidade, sem máscaras. Se não te queimas, já não será preciso dizer que és católico: acabarás por deixar de o ser.

Só.

Mesmo o que esperas das coisas boas ou de tanta gente maravilhosa, espera por Deus. É Ele Quem as põe no teu caminho.

É a única esperança que não falha. O único que podes alcançar e continuar a desejar.

O resto engana.

Achas a vida cristã muito difícil. Até a desejas mas nunca tens forças, não tens vontade, não tens coragem. O mais simples gesto de generosidade é um esforço imenso para ti.

Mas quando tens algo a ganhar, és forte. Não falhas uma festa, nem o ginásio, nem o que te põe no centro das atenções.

Olha, confessa-te e tenta andar habitualmente confessado, na graça de Deus. Já percebeste que essas semanas todas a atrasar a confissão te deixam doente da vontade. E começas a desprezar o pecado: só mais um, só mais outro...

Não te confesses quando der jeito, mas quando precisares. Logo que precisares. Consegues, sim, ainda que te custe. É mais importante que o resto do que tens para fazer. Não sejas tão desprendido de um Deus tão misericordioso.

Que maravilha! Descobrir que o mesmo Deus que tudo criou me fez apenas por amor. Que Aquele que não precisa de nada, me pede o coração inteiro.

Descobrir que me escuta o mesmo que sabe tudo. Que me olha continuamente ainda que eu Lhe vire as costas.

Descobrir que levou a cruz no meu lugar, que deu a vida por mim. Que me deixou a Missa para eu reviver a Sua paixão.

Descobrir que o Omnipotente me espera num pedaço de pão em cada sacrário. Que o Inocente nunca se cansa de perdoar-me.

Então, ser cristão não é uma mania desinteressante de uns quantos iluminados? Não! É descobrir para que tens coração.

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