Jesus, um dia havia de sentir falta do que entreguei. Sabia-o, mas envergonha-me esta leve esperança de o reaver. E com inveja dos outros, tenho pena de mim.

Sim, devolve-me o que Te dei. Mas não como o pus nas Tuas mãos. Dá-me antes o Teu coração em troca do meu, dá-me os Teus cravos em troca da minha liberdade, dá-me o Teu afeto em troca dos que larguei, dá-me a Tua paz em troca da minha ambição, dá-me o Teu amor em troca da minha vida.

E, em troca do meu entendimento, a luz. Para ver como ganho, dando-Te o que queria guardar.

Não te queres comprometer, não queres gastar tempo a ajudar, não queres ter filhos, não queres cuidar, não queres defender uma causa, não queres ter pesos, não queres arriscar.

Ligas muito ao ginásio, à dieta, à rotina, ao cão, à tranquilidade, à imagem, ao lugar...

Desculpa, não tens esperança?

Foste batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Assim te benzes e terminas muitas orações.

O mistério central da tua fé revela um pouco da intimidade de Deus. Sendo um só, é comunhão. E convida-te a fazer parte dessa comunicação de amor.

Hoje, festa da Santíssima Trindade, procura Deus que mora na tua alma. Entra em diálogo com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo. E pede a fé que te falta para te maravilhares com o amor que não compreendes. Mas tocas.

Lembras-te como falavas com Deus? As palavras simples que aprendeste em casa, pedidos de ajuda e proteção, declarações de um amor alegre, ingénuo e sincero.

Agora a tua fé é mais intelectual. Mas por que deixaste de rezar com simplicidade?

Volta à tua piedade de criança. Reza antes de dormir e ao acordar. Põe sempre o teu dia, –a tua vida– nas mãos de Deus, que te criou, que te guarda, que te olha em cada momento.

É o teu sítio.

Eles esperam porque tens de acabar qualquer coisa, eles mudam planos porque te dá mais jeito, eles complicam a vida porque tu te atrasas.

Iam ser 20 minutos mas decidiste que seria uma hora, estão com pressa mas tu não reparas, têm muito que fazer e tu não ligas.

Que mudem as agendas para se adaptar à tua. Como se dispusesses do tempo dos outros, porque o teu é mais importante.

Antes que fiques definitivamente só, começa a dar valor ao que os outros fazem.

Tens mil coisas para fazer, ajudas aqui e ali, queres estar sempre disponível. E ainda tens iniciativas, projectos, coisas boas que gostavas de lançar.

Há mais gente, mas sobram sempre mil pormenores e imprevistos que te fazem estar constantemente a apagar fogos.

Vives a fazer coisas, esqueces as pessoas. Ocupas-te com números, esqueces as almas. Inventas recursos, esqueces a oração. Confias em ti, esqueces Deus. Será que vale a pena?

Para pegar aos outros o fogo de Cristo, talvez tenhas de fazer menos.

Perdes tanto tempo de descanso por causa do telemóvel! Não queres perder as novidades, o que se comentou, o que alguém talvez ainda te queira dizer, a sensação de estar atualizado...

E não dormes.

Mesmo que sejam coisas importantes, não perdes nada se só as vires no dia seguinte. Desliga o telemóvel, descansa.

Viver livre vale mais que saber novidades.

Calma, rapaz! Não te assustes!

Mas lembra-te que, para um católico, é perfeitamente natural pensar nesta possibilidade. Que não é para pessoas especiais, como nenhum caminho de entrega o é.

Bem sei que não te consideras à altura. É verdade: não estás. Curioso é que te aches à altura de outra vocação qualquer. Se não te abandonas, não consegues nada em lado nenhum.

Confia em Deus, que te dá o que te pede. E deixa-O pedir o que quiser.

E neste "só que" entra tudo o que lhes falta para serem iguais a ti, viverem o teu espírito, terem as tuas prioridades, fazerem como tu fazes.

Mas a comunhão na Igreja não é uniformidade. Os caminhos de Deus são tão ricos quanto Ele mesmo.

Vive o carisma que Deus escolheu para ti com amor, exigência e fidelidade. Esforça-te com alegria para que os outros possam fazer o mesmo. E tira da cabeça a mais leve sombra de competição.

O Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos e deixou-lhes o coração em chamas. Com esse coração ardente mudaram o mundo, testemunhando o amor de Cristo. Livres de medos, atearam o mesmo fogo, coração a coração.

Hoje, o Espírito é o mesmo, os corações são iguais, o mundo precisa de outra mudança.

Tens deixado que o Espírito Santo tome conta de ti?

Como seria o mundo à tua volta se vivesses mais entregue? O que mudaria se decidisses dar-te totalmente, por amor a Deus? Não mexe contigo que haja tantos longe Dele?

Fazem falta as vocações entregues e a oração é o nosso principal recurso. Reza a tua vocação, reza pela dos outros. Deus chama todos.

*

E junta-te a uma rede de oração pelas vocações que é a coisa mais simples do mundo: rezar todos os dias a mesma oração. Link na história.

São horas infindáveis de trabalho que te tiram tempo para tudo o resto: a família, os amigos, a oração, o descanso.

Entregas-te com a postura de quem se sacrifica pela causa. Mas na verdade não percebo porque passas ali tantas horas.

Multiplicas os cafés e as pausas. Gastas imenso tempo a procurar coisas porque tens tudo desordenado. Não queres delegar porque não confias em ninguém. Interrompes o trabalho por tudo e por nada. Perdes tempo com o que gostas para fugir do importante. Não levas até ao fim as tarefas que começas.

Talvez fique bem sair tarde do trabalho. Mas talvez pudesses fazer o mesmo em metade do tempo.

Tens uma vontade grande de falar de Deus em todo o lado. Menos onde estás.

Mas a tua primeira missão é esse local difícil em que te encontras todos os dias e essas pessoas que vês o dia inteiro no trabalho, na escola, na família. Aqueles que hoje discordam de ti e amanhã vão voltar a ver-te, e no dia seguinte, e no outro. E continuar a discordar.

A terra que tens de missionar também é essa onde pode correr mal, onde não és tão apreciado, onde ninguém te procura. Assim será claro que o que te move é o coração de Cristo.

Como te fazem falta para não ficares fechado no teu mundo. E para poderes pôr em palavras o que antes só intuías.

Mas trocaste conversas e leituras por copos e youtube! Têm o seu lugar, mas és capaz de mais: mais profundidade, mais proximidade, mais atenção.

É que é diferente ser amigo e estar interessado, de ser porreiro e interessante. Podes ser o segundo. Mas deixas tanto bem por fazer se não és o primeiro...

Sobre o qual desce Jesus, em cada Eucaristia, com o Seu corpo, sangue, alma e divindade. Onde Deus está verdadeiramente presente (não é um símbolo), para estar connosco como um de nós. Onde se renova o sacrifício da Cruz e Jesus se entrega no teu lugar.

A unidade dos cristãos, a caridade entre todos, não vem só do bom ambiente. A força que sentiste vem do próprio Cristo. Unidos pela Eucaristia seremos inquebráveis.

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