Tema: Confissão

Não para te vangloriares como se fosses um gangster!

A quem contas as quedas que te envergonham? A quem explicas as tuas fraquezas, para que te ajude a lutar? Com quem abres a alma depois de um trambolhão?

Primeiro na confissão.

Mas também te ajuda ter um bom amigo que te ouça, que te anime e que exija de ti o que podes dar. Continuará a custar-te falar das asneiras, mas o caminho é mais difícil se o tentas fazer sozinho.

Alguém à frente de quem possas chorar à vontade, sem defesas nem disfarces. Não é lamechice, é amizade. Precisas, precisas...

Foste avisado, preveniram-te, ofereceram ajuda. E desiludiste. Caíste com força na lama, onde ficaste a rebolar, afundando-te na própria miséria.

Nem tens coragem de aparecer. Estás envergonhado, querias fugir e esconder-te, encontrar qualquer desculpa. Nunca um erro te pesou tanto.

E Deus?

Que Lhe disseste? Que ajuda e perdão pediste? Lembras-te do filho da parábola, que fez pior que tu e que o pai esperava à porta? É isso que conta, não o juízo da multidão.

A consciência da fraqueza far-te-á confiar em Deus e a vergonha de seres visto no chão é uma ajuda para a próxima luta. A contrição, dor de amor, pode levar-te mais longe do que podias antes.

Confuso? Nossa Senhora explica isto bem.

É difícil perdoar. Custa largar a dor a que nos prendemos para encontrar consolo.

E mais difícil ainda reconhecer a necessidade de perdão. Admitir a própria fraqueza –ou maldade! Aceitar que não temos razão, que mentimos, que humilhamos, que usamos, que temos uma intenção retorcida.

Somos prudentes a esconder erros e astutos a procurar razões. Interessa-nos ocultar as faltas. Já pensaremos na culpa...

Mau caminho o que escolhe o orgulho em vez da esperança.

Foram os pecados dos homens que pregaram Jesus à cruz.

–Não os meus, que são poucos, mas desses outros pecadores. Eu preocupo-me por não prejudicar ninguém: isso é que é um verdadeiro pecado. E a isso é que a Igreja devia estar atenta, sem se meter na vida privada de cada um...

Desculpa insistir: os pecados que pregaram Jesus à cruz foram os meus e os teus. O orgulho, a murmuração interior, os julgamentos, a indiferença a Cristo, o desprezo da Igreja, o desrespeito pelo que é divino, a inveja...

A dor pelos pecados é o caminho que o amor procura para se converter e não perder a alegria. Contentar-se com ser, aparentemente, boa pessoa é o mesmo que não ter fé. E não perceber o que aconteceu na Páscoa.

Assim em geral! Fazes cara humilde e pareces arrependido.

Talvez te perdoem, mas não te arrependeste: não podes arrepender-te de coisas vagas. Não pedes desculpa para ficar bem, mas para reparar o que fazes mal. E isso é muito concreto.

Como deve ser a tua confissão.

É fácil dizeres-te mau e fraco, que te falta tal virtude ou qualidade. Difícil é reconhecer aquele pecado que te envergonha muitíssimo e de que sabes até o dia e a hora, o número e o motivo.

Mas é desse que queres arrepender-te! Sê claro.

Que se deixou cravar na cruz em vez de ti, que te dá sempre uma nova oportunidade, que espera o teu regresso a cada instante, que te deixou um modo fácil de obter o Seu perdão, que desculpa e esquece o que confessas arrependido, que não te deve nada e suplica o teu amor... Só mesmo Deus.

E tu não te confessas.

Estamos na quaresma. Deixa-te de teorias, faz uma boa confissão e agradece e Deus a Sua espantosa misericórdia. Sem ela, estavas bem tramado!

Enganas-te muito por decidir rápido, sozinho e com paixão. Estás demasiado perto para ver com objetividade o que se passa. Precisas de tempo, de calma e de pedir ajuda a alguém.

É um perigo. Nem a noção de um Deus malvado é verdadeira, nem um ideal perfeccionista permite amar um Deus que perdoa.

Mas é importante a consciência do pecado, a sensibilidade de quem sabe poder ferir: eu erro, eu peco. Porque quero.

A culpa pode causar dor. E esta cura-se com o perdão, não com a leveza de consciência que  justifica tudo com as dificuldades. E exige de Deus que as aceite.

Ofendi Deus. Isso dói-me porque O amo. Não dói se não O amo.

Dá-me, Senhor, a delicadeza dos corações enamorados e a coragem da sinceridade na confissão. Sem obsessões, com amor.

*

Amanhã festejamos a Imaculada Conceição de Nossa Senhora.

Têm boa impressão de ti. Contam contigo para muitas coisas. Para alguns até és uma referência.

Mas tu conheces-te. Sabes que tens misérias e que não és metade do que te pintam. E sentes-te a representar um papel, com medo de uma tremenda humilhação se o descobrirem.

A verdade é que és bom ator. Tens algum gosto –até talento!– para o fazer. Por isso, é bom que Deus te mantenha consciente de que és pobre, não vá subir-te à cabeça o aplauso da plateia.

Dá-te a conhecer com simplicidade na confissão e no acompanhamento espiritual. E sempre que a vaidade reclamar para si o papel principal, diz ao Senhor que queres agir bem sempre e só por Ele.

Agora deves servir nesse palco. Não és estrela nenhuma, mas não há mais ninguém!

Eu sei, tens as desculpas todas na ponta da língua. Hoje não te dá jeito. Não tiveste tempo de fazer um bom exame de consciência. Se calhar, joga o Benfica. Está de chuva. Conheço as desculpas: eu também já as usei. Mas hoje, damos prioridade à misericórdia de Deus. E, mesmo que custe entrar no confessionário, ambos sabemos que se sai de lá muito mais leve.

Damos cada vez mais importância à saúde mental. A pandemia, com os seus distanciamentos sociais e isolamentos profilácticos, fez-nos perceber que é preciso cuidar dos nossos equilíbrios internos, que é preciso estar atento aos pequenos sinais. A psicoterapia deixou de ser um tabu. Mas não te esqueças de que, para cuidares de ti mesmo, também tens de atender à dimensão espiritual. A direcção espiritual não substitui a psicoterapia. Mas a psicoterapia também não substitui uma boa direcção espiritual. Ambas são complementares.

Somos assim! Sabemos bem o que devemos fazer ou corrigir, mas ajuda que alguém puxe por nós, nos recorde o caminho e lute connosco. E, ao contrário, que fácil é desviar-se quando se está só.

Por isso é tão importante pedir conselho na vida espiritual, a alguém que , conhecendo o caminho e o caminhante, nos guie até Jesus.

Se chegas lá sozinho? Talvez. Mas, se não precisas, porquê tentar?

Não estás bem, andas sem vontade. E nem te podem consolar: não sofreste nada, não fizeste uma grande asneira. Estás só em baixo.

Precisas de reencontrar Jesus e pedir-Lhe que volte a cativar-te.

O exame dar-te-á luzes para descobrir, com Jesus, de onde vem esse desânimo.

E a confissão é o porto onde Cristo espera a tua barca, desconjuntada e cheia de água, para a recuperar e navegar contigo. Ao leme!

***

Confessas-te com frequência ou só quando perdes a cabeça?

Pedes perdão pelas pequenas faltas e omissões, que doem a uma alma delicada e apaixonada por Cristo?

Seria uma pena!

Se vens bem disposto para ouvir o que Deus te pede, aproveita para começar de novo, com uma confissão bem feita.

Talvez seja o momento de tirar dos teus ombros aquele peso antigo, a vaga tristeza dos propósitos tomados sem decisão, o medo a que conheçam as tuas fraquezas.

Procura Jesus na reconciliação e entrega-Lhe tudo isso. Não há outro modo de se levantar e partir apressadamente!

E tu, necessitado de cura, não tens melhor modo de tocar-Lhe que os sacramentos.

Confessa-te antes da Páscoa. Prepara bem o teu encontro com Jesus que quer ouvir-te e perdoar-te. E poderás recebê-Lo, na comunhão, de alma limpa e renovada.

A vida cristã na Igreja precisa dos sacramentos: são o nosso acesso a Cristo. Se há outro modo de chegar a Jesus? Assim sensível, eficaz e em comunhão com a Igreja... não!

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