Tema: Telemóvel

Precisas de ler. Ainda não há um meio que o substitua, que te ajude a estruturar o pensamento, que te ensine a falar e a escrever, que te permita transmitir as ideias que tens dentro, e as que sentes sem saber expressar. E a perceber o que te dizem.

Não gostas? Aprende a gostar. Começa por coisas fáceis e breves, descobre os teus gostos, começa devagar e aguenta. Não tens tempo? Tens todo o que passas agarrado ao telemóvel.

Além disso, há muitos textos que alimentam a tua relação com Deus, começando pelos que o próprio Deus deixou escritos. Lê. Prometo que vais gostar.

Estás só? Estás carente?

Encontrarás aplicações que te arranjam alguém para passares um bom bocado. Podes escolher, de uma montra, baseado em quase nada, o perfil que te satisfaz. Não chegarás a saber o que tem de falso e verdadeiro. Nem o que pensa, que história tem, que virtudes invisíveis, que dons. Quem é.

Nem queres. Desprezas o que te apetece.

Não podes olhar assim ninguém. Nem a ti.

Talvez haja aplicações úteis, bons encontros e histórias bonitas. Se as usas para te satisfazer, és só mais um egoísta. E aprofundas, em ti e no mundo, essa tremenda solidão.

Olhar nos olhos, dar opinião, convencer, escutar, corar, consolar, dar conselhos, contar histórias, expressar-se, partilhar, aprender...

Sem recorrer ao vídeo quando o tema arrefece, sem perguntar ao Google quando surge uma dúvida, sem registar em fotografia, sem ler as notificações que chegam de fora... sem interrupções.

Coisas do passado para experimentar entre amigos e família. E sempre na oração.

Como o telemóvel te seduz!

Entras num mundo novo, surpreendente, de paisagem feita à tua medida. És guiado pela mão em tal abundância que tens sempre algo que te dá mais prazer. E há para todos! A beleza e a felicidade estão tão próximas, a cultura tão fácil e a vida social tão intensa... que te deixas sempre enganar.

Não há local em que os teus bons desejos encontrem tão rapidamente algo que os destrói. E por isso nunca chegam a firmar-se profundamente na tua alma.

Já percebes porque és inconsequente?

Na quaresma notamos sempre que estas publicações chegam a menos pessoas. Parece-nos que há muita gente que se desliga neste tempo, para recuperar o silêncio e crescer em interioridade. Uma pausa para rezar.

Para ti, que andas curvado sob o peso do telemóvel, era um belo jejum!

Mete o terço a correr: no fim, já rezaste!

Há imensa gente generosa que faz conteúdos digitais para nos ajudar a rezar. São ferramentas úteis para alimentar a vida de relação com Deus.

Lembra-te só que são ajudas. O importante é o teu esforço de diálogo e de oração. Não basta pôr a tocar!

Por isso, é útil algumas vezes não as usar: não te prendes a um esquema impessoal e consegues perceber se tens crescido na vida de oração.

De resto, aproveita esses conteúdos. E agradece a quem os preparou.

*

Deixa nos comentários as aplicações e sites que te ajudam a rezar.

E como o queres escutar com esse medo ao silêncio?

Vives com o receio constante de perder alguma coisa de que se fale. E com o desejo constante de novidades de que possas falar.

A oração é um desafio. Agarra-o! Cansas-te? Prepara-te para ouvir melhor. Como pode cansar ouvir alguém repetir constantemente, sem qualquer falsidade: amo-te?

***

Quanto tempo aguentas longe dos ecrãs, de telefone desligado, sem nada para te entreter? Quantas vezes procuras esse silêncio?

Ficas rapidamente sem nada para dizer a Jesus na oração? És capaz de ouvir? Como achas que isso melhora?

Pelo último, terás mais seguidores. Mas acho que preferes ter amigos.

Boa parte depende de ti. Como queres que te conheçam? O que desejas mostrar aos outros? A tua estima e interesse? Ou que te admirem e desejem?

A beleza identifica-se com o bem. O prazer nem sempre. Que pena se a ti, com todo o encanto da pessoa que és, te tomassem por um simples pedaço de carne.

Não somos anjos, seremos sempre conhecidos pelo corpo. Mas seria absurdo que as nossas relações, belas e valiosas, se medissem pelo nível de satisfação dos apetites. Já estivemos mais longe...

Só para lembrar como te atraem os disparates!

Menos tempo online far-te-ia muito bem.

E, quando estiveres, define um tempo, um objectivo, escolhe fontes e conteúdos. Se continuas a deixar-te levar, acabarás terraplanista!

É a história da tua relação com o telemóvel.

E enquanto te deixares levar, terás um problema. A moleza, o vício, os mal-entendidos, a agressividade, o vulgar...

Não fiques por um bom desejo: pensa porque perdes tanto tempo, quando e onde. E corta com isso. Com força.

Pois custa! Menos hoje do que amanhã.

Eu percebo que não respondas logo. Não tens que estar sempre disponível.

O que não entendo é que fiques simplesmente em silêncio. Como quem não viu ou não recebeu nada.

Sei que sou um chato. Mas preferia que me dissesses que não podes pegar agora no assunto. Ou que não estás interessado. Ou mesmo que preferes que eu deixe de falar contigo! É o melhor para os dois.

Ganha coragem para as respostas difíceis mas, por favor, deixa de fingir que não viste!

Ou de achar que há gente indigna da tua resposta!

Passas horas no telemóvel. Estás sozinho, fechado, escondido. Não vês o que queres mas o que te põe à frente. Tens a vontade amolecida e a vaidade bem alerta. Fome de entretenimento e preguiça para pensar.

Não vês nada de mau.

Mas repara como te comparas mais, como te hipnotizam as tuas próprias fotografias, como achas graça ao que é agressivo, sensual, humilhante.

E repara nas respostas bruscas, na dificuldade em estar com outros, na pouca vontade de servir.

E repara no modo como falas, pobre, agressivo e cheio de erros. No tédio que te causa todo o esforço intelectual.

E repara na beleza…

Qual beleza! Já nem consegues reparar…

Pode ajudar, sim. Perdes menos tempo sozinho em coisas sem interesse. Deixas de ver vídeos irrealistas e exagerados. Não te comparas a toda a hora com pessoas impecáveis.

Ganhas tempo para dedicar aos outros. Dormes melhor e mexes-te mais. Tens cabeça para pensar e concentrar-te no que fazes.

E não vives ao mesmo tempo em dois mundos que estão sempre em choque, sem o saber, porque não se conhecem.

Com a necessidade que temos de distrações? Habituados a estímulos imediatos? No meio de tanto ruído e pouco dados a conversar? Satisfeitos com dar a conhecer só o melhor de nós próprios? Com medo constante da crítica? Intolerantes ao silêncio e receosos do tédio?

Sim. Somos capazes de rezar. Se estivermos dispostos a aprender.

Não chega seguir o estado de ânimo do momento. Não basta esperar que Deus nos entretenha. A oração é um combate, um caminho. Com luta, crescemos.

E o ponto de partida é o mesmo pedido que os discípulos fizeram a Jesus: Senhor, ensina-nos a orar.

Jesus ensinou-nos que para rezar é preciso recolher-se, esconder-se com Deus e dedicar-lhe um tempo só a Ele. É verdade que podemos rezar em qualquer momento e lugar mas fazem-nos falta estes tempos dedicados exclusivamente a falar com o Senhor.

Se nesta oração continuamos presos ao telemóvel, às notificações, à organização de tarefas, a tantas distrações... então deixamos a porta aberta! Por ela entrará a dissipação e o ruído que nos estragam o recolhimento. E sem silêncio é difícil ouvir Deus. Silêncio interior. E o exterior para alcançar o primeiro.

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