Tema: Amizade

Ouviste? Lá está ele com as indiretas. Porque é que não me diz na cara? Outra vez esta conversa? Viste como olhou? É para magoar.

É que ele nem sequer se lembrou de ti. Estás obcecado –humilhado talvez–, tudo anda à tua volta e em tudo vês ataques. Que ninguém lançou.

Não te admires que comecem a evitar-te: é preciso medir cada palavra ao falar contigo.

Perdoa, esquece e segue em frente. É o normal!

É bom teres gostos, é importante teres hábitos, é exasperante teres manias!

Estás agarrado a coisas sem importância e dás peso a pormenores que os outros não conseguem valorizar.

Ficas nervoso, inquieto e desconfortável. Respira fundo e não digas nada: é mania tua! O que eles estão a fazer é perfeitamente normal.

Não para te vangloriares como se fosses um gangster!

A quem contas as quedas que te envergonham? A quem explicas as tuas fraquezas, para que te ajude a lutar? Com quem abres a alma depois de um trambolhão?

Primeiro na confissão.

Mas também te ajuda ter um bom amigo que te ouça, que te anime e que exija de ti o que podes dar. Continuará a custar-te falar das asneiras, mas o caminho é mais difícil se o tentas fazer sozinho.

Alguém à frente de quem possas chorar à vontade, sem defesas nem disfarces. Não é lamechice, é amizade. Precisas, precisas...

Desculpa, não te falei. Desculpa, falei muito tempo. Se calhar estavas à espera de outra coisa, não expliquei bem. Expliquei demais, não foi? Fui um bocado rude. Devia ter sido mais firme. Se calhar preferias diferente. Estive pouco contigo. Estive muito contigo. Talvez não gostes. Fui chato? Estou a ser chato?

Não aguento tanto cuidado! Agradeço as atenções, mas perguntas tantas vezes se agradaste que só queres ouvir a aprovação. É amizade ou querer ficar bem?

Já sei que és inseguro. Há mais segurança no desprendimento: não perguntes.

Novos amigos no verão. Entraste bem no grupo, começas a estar à vontade, achas que gostam de ti... mas veio à conversa um tema difícil, que põe em causa a tua fé e as tuas escolhas de vida.

A tua opinião é diferente do resto, não tens a certeza de a saber defender, temes perder a cabeça e -pior!– que passem a olhar-te com desdém.

Tenta. Reza ao Espírito Santo e fala com simplicidade e amizade. Por Deus e por eles, não para salvar a tua imagem.

A verdade atrai, o exemplo move.

Que facilidade em cortar relações! Esperas dos outros uma sintonia de opiniões, gostos e modo de ser que não existe. Toda a gente acaba por discordar de ti, dizer algo que não gostas, contrariar-te. Ou, simplesmente, ter uma saída infeliz sem sequer se dar conta. Tu ouves e guardas, riscas da tua lista. Às vezes sem ter acontecido nada: deduzes pelo olhar, concluis pelos silêncios!

Já reparaste que não tens amigos antigos? Que, por um motivo ou outro, te afastaste de toda a gente?

Uma boca ou uma piada infeliz não valem uma boa amizade. Tens de ser capaz de as ouvir sem dar tanta importância: não és o centro do mundo. Quando for preciso, falas com franqueza do que te incomoda, perdoas e esqueces.

Assim ofendidinho vais acabar só.

Aprende a rir-te de ti próprio. Dessa solenidade que pões em tudo e da preocupação constante por ficar bem.

Com bom humor dás ânimo aos que estão à tua volta, evitas preocupações com problemas imaginários e revelas aos outros um pouco da alegria que levas dentro.

Ri-te! És filho de Deus! Podes esquecer-te de ti próprio e pensar primeiro nos outros. Não tens de ser muito engraçado, mas encontrar graça em tudo o que te é dado.

Sorri. Estás a ser cuidado!

Jantar de amigos. Na conversa, serena, foram aparecendo nomes de outros que não estavam presentes.

Sobre os que havia coisas boas a contar, saíram elogios e uma alegria sincera, quase orgulhosa, de sermos também seus amigos.

Sobre os que havia novidades menos felizes houve... preocupação, compreensão e sugestões para os tentar ajudar. Com o mesmo orgulho de sermos amigos seus.

Dos teus amigos não falas mal nas costas.

A imperfeição escandaliza-te. Comentas, corriges, cortas, limpas. Não tens a mínima preocupação por ser simpático, acolhedor ou compreensivo.

Representas a justiça divina do alto da tua cultura religiosa. Não falas de outra coisa que não os pecados dos homens, que julgas sem conhecer. Cansas!

Eu conheço alguns dos meus pecados: quero e tento evitá-los. Mas o medo de Deus que me inspiras não me ajuda em nada. Não peço que chames bem ao que é mal, peço que me ajudes.

Essa postura escrupulosa não te ajuda nem a ti. E fez-te esquecer a caridade mais simples.

Estás inquieto. Tens problemas sérios, a vida complicou-se e tem sido muito difícil. Já não sabes o que fazer mais.

Procura companhia. Alguém que te ouça, console, limpe as lágrimas e anime. Agora, é o que precisas.

Queres muito encontrar a solução, arranjar o que se estragou, voltar ao que tinhas antes. Mas talvez não dê: há coisas que se estragam e ficam estragadas, ou demoram muito a arranjar.

Com companhia é mais fácil aceitá-lo. E procuram juntos a solução. Um bom amigo? Um irmão? Jesus?

Dedicamos o mês de junho ao Sagrado Coração de Jesus.

O coração que te consola, que espera sempre por ti e te olha com ternura. Que conhece as tuas fraquezas e nem por uma deixa de estender a mão. Que te facilita a oração, que se faz notar sensivelmente.

Mas esse coração arde de amor. E, atrás do consolo, vem o fogo que purifica o teu coração e o move a mudar, a lutar, a queimar o que está a mais. E é tanto.

Com o consolo vem a conversão. Senão, é teu, não de Deus.

Irritas-te! Perdes a cabeça com o que achas inadmissível. E és muito rápido a passar do problema para a pessoa: o que devia e podia ter feito, já sabia, já não é a primeira, os outros também acham, estas manias... Toda uma indignação em que não pensas senão em ti.

E se procurares o olhar de Cristo?

Preocupado com o erro e com a pessoa, falando com sinceridade e oferecendo ajuda, disposto a lutar ao lado dos irritantes para que deixem de o ser, rezando por eles sem os julgar. Mais do que lamentar, o que está mal é para mudar.

É difícil estar irritado com alguém por quem se reza. E é por isso que não há mais irritados contigo!

És pedinte de afetos. Persegues admiração, agradecimentos e abraços. Que te achem graça e ternura, que te consolem. Prolongas eternamente o momento em que roubas a atenção de alguém porque temes ficar de fora: ninguém te ligou, ninguém te convidou, não te atendeu, não te ouviu, não te contou...

É que a febre social destrói a amizade, confunde-a com a fama. Em vez de amar, competimos. Em vez de servir, servimo-nos.

Não interessa se és o mais social, se tens mais seguidores e as melhores fotografias. Interessa que te interesses pelos teus amigos, sem fazer contas ao que recebes em troca.

A amizade é bem mais que a excitação infantil da popularidade.

Não gostas de esperar.

É aquela intuição de que o teu tempo vale mais do que os momentos iniciais em que a coisa não arranca. Ou a vergonha de chegar primeiro e ficar sozinho, com o risco de acharem que não tens amigos.

Então, fazes os outros esperar!

Em vez disso, podes escolher dar o teu tempo ou passar a vergonha em vez deles. Atrasar-te para que outros carreguem o que te custa, não é só irritante, é egoísta.

Não é Deus, és tu!

És rápido, duro e mordaz a julgar. Para ti é tudo fácil, sabes sempre como o farias, conheces a intenção das pessoas e a verdadeira motivação de cada um. Falas com firmeza e com o frio sorriso da ironia. Classificas e dás sentenças como júri do mundo e da vida.

Já sei que queres ter graça. Mas essa postura justiceira é desagradável: serás temido antes de ser estimado. E, sobretudo, faltas à caridade, afirmando o que não sabes e culpando inocentes.

O mundo não melhora quando os outros fazem o que dizes, mas quando tu fazes o que diz Deus. Não julgues.

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