Tema: Caridade

Ele não sabe mas eu não lhe digo nada, ainda se zanga. Podia ser muito mais feliz se se desse conta, mas sei lá se estaria interessado. Até tenho sugestões para os problemas que atravessa, mas prefiro que ele peça.

Sim, somos amigos. Partilho tudo com ele, mas há coisas que são muito pessoais, percebes? Eu acho que ele não iria compreender. E precisava de tempo, neste momento estou sem tempo. E sem cabeça também para grandes explicações. É que eu não tenho muito jeito para falar.

...

Mais um pobre homem a quem ninguém falou de Deus... até parece que para o bem dele!

Não sejas egoísta.

São precisos, importantes. Quando se trata de amar os outros e quando se trata de amar a Deus. Não é piegas, é coerente!

Imagina uma mãe que nunca abraçou o filho, nunca lhe disse ao ouvido palavras ternurentas, nem deixou escapar pelo olhar um pormenor de afeto… Por muito amor que guarde, dirias que é perfeita a sua expressão?

Assim é contigo, que escondeste a sensibilidade na gaveta e agora pretendes amar sem corpo… Deixa-te disso! E lança um beijo à tua mãe do Céu.

Tens amigos, uma vida social intensa, uma boa imagem e até seguidores.

Mas nas últimas horas não recebeste um elogio, nem um telefonema de alguém a desabafar ou a contar um segredo, nem um comentário nas tuas publicações, nem um convite para um plano qualquer.

Ficaste triste! E com medo de não voltar a ser importante. Fazes coisas boas porque persegues a boa imagem. Vives de elogios, aprovações e atenção, ao ponto de te deixares inquietar se começam a faltar.

Nunca terás segurança se não o entregares. Vive para os outros, sem medir o que importas.

Isto não se pergunta!

Nem aos amigos, nem ao marido ou mulher, nem aos filhos. É a intimidade da pessoa com Deus e pode ser a pergunta pelos pecados que cometeu.

Além disso, essa pressão já levou gente que não o queria a comungar para ser visto.

Não perguntes. Se te preocupa, reza. Se é curiosidade, cresce.

Eras tu quem estava atento e presente, quem reparava no que faltava. Adivinhavas necessidades e inventavas surpresas. Custava-te menos o cansaço do que deixar alguém por cuidar.

Mas agora invertem-se os papéis: é necessário que te deixes cuidar. Com abandono, sem reclamações, sem ensinar. Sem veres humilhação na vulnerabilidade, como não vias quando eras o cuidador.

Não és um peso, és um tesouro. Sê dócil.

Achas que agi mal. Dizes que terias feito diferente, escolhido outro caminho. Que o que é preciso fazer se faz. E pronto!

Põe-te no meu lugar. Vive o que eu vivi, nas mesmas circunstâncias, rodeado pelas mesmas pessoas, com a mesma capacidade e ânimo.

Nem sempre agi bem, tu julgaste sempre. Umas vezes acertando, outras injustamente. Nunca na minha pele.

Não tens de julgar, não te compete, não tens informação. Nem tens a justiça e a misericórdia de Deus. Mas precisas de tema de conversa...

Trata os outros como gostarias de ser tratado. Nunca to disseram porque não sabem o que pensas, nem ouvem os teus sussurros.

Tens mesmo graça. És criativo, oportuno, sagaz e atento. É um dom de Deus que deves fazer render, mostrando a todos a alegria verdadeira.

Mas precisas de mais delicadeza para que as tuas piadas não magoem. Apanhas logo as fraquezas do outro e consegues que todos se riam... dele!

Podes brincar, sim. Mas também podes ser delicado e perceber quando o próprio não acha graça. E parar logo, mudar de assunto, retirar dele a atenção.

Deus sorriu com aquela piada inesperada e inteligente que, por caridade, não mandaste.

Tinha que ser agora, era o momento ideal. Fizeste planos, estavas entusiasmado com a expectativa... E não deu. Vai demorar tempo.

Deste muitas horas, empenhaste-te como em nenhum outro projeto, tinhas uma certa segurança de que daria... E falhou. Precisava de mais dedicação.

Estavas a lutar bem, um longo período sem quedas. Animado com a ideia de deixar um problema para trás... E caíste. É preciso voltar ao início.

Estás farto de lhe dizer, já conversaste com calma, já lhe deste razões... E ele não muda. Ainda não consegue.

Com paciência verás muito mais frutos: maduros e colhidos nos tempos de Deus. Espera.

A imperfeição escandaliza-te. Comentas, corriges, cortas, limpas. Não tens a mínima preocupação por ser simpático, acolhedor ou compreensivo.

Representas a justiça divina do alto da tua cultura religiosa. Não falas de outra coisa que não os pecados dos homens, que julgas sem conhecer. Cansas!

Eu conheço alguns dos meus pecados: quero e tento evitá-los. Mas o medo de Deus que me inspiras não me ajuda em nada. Não peço que chames bem ao que é mal, peço que me ajudes.

Essa postura escrupulosa não te ajuda nem a ti. E fez-te esquecer a caridade mais simples.

Disse Jesus que devíamos perdoar sempre.

Não quando nos pedem perdão, nem quando o aceitam. Não quando reconhecem o erro, nem quando prometem não o repetir. Não quando é fácil, nem quando todos perdoam. Não quando fica bem perdoar. Não para esquecer e tirar um peso de cima.

Sempre.

Já viste como o mandamento do amor é novo?

Sabias mais do assunto e deixaste que te explicassem, és bem mais amigo daquela pessoa e deixaste outro contar as notícias, conhecias mais pormenores mas ouviste com atenção quem falava entusiasmado.

Querias desabafar mas ele desabafou primeiro e consolaste-o, tinhas o mérito mas foi dado a outro e aplaudiste.

Podias ter o protagonismo e calaste-te para dar o lugar, como quem recebe uma novidade. Que bonito esse silêncio! E que contentes ficaram tu, eles e Jesus.

Não é Deus, és tu!

És rápido, duro e mordaz a julgar. Para ti é tudo fácil, sabes sempre como o farias, conheces a intenção das pessoas e a verdadeira motivação de cada um. Falas com firmeza e com o frio sorriso da ironia. Classificas e dás sentenças como júri do mundo e da vida.

Já sei que queres ter graça. Mas essa postura justiceira é desagradável: serás temido antes de ser estimado. E, sobretudo, faltas à caridade, afirmando o que não sabes e culpando inocentes.

O mundo não melhora quando os outros fazem o que dizes, mas quando tu fazes o que diz Deus. Não julgues.

Como te correu mal o exame, faltaste às aulas da tarde. Como o teu clube perdeu, podes ser mal educado. Como ajudaste ontem, hoje ajuda outro.

Como tiveste uma tristeza, tens direito a uma alegria. Como doeu, tens direito a um prazer. Como fizeste bem uma coisa, podes fazer outra mal. Para cada virtude, um pecadito.

Não era por amor que vivias? É que essa lógica de direitos está bem longe da generosidade gratuita de quem ama. Não és capaz de dar.

Compensações? Espera-as só de Deus.

Se não resistes aos impulsos mais vulgares, se és incapaz de recusar um prazer, se te deixas levar por qualquer apetite, se o gosto ganha sempre ao dever... não és senhor de ti próprio.

E enquanto não cresceres nesse domínio pessoal, será muito difícil amares alguém. Porque não consegues entregar o que não possuis.

Sim, tens que crescer em fortaleza, resistir às tentações, educar os apetites e ser fiel. Consegui-lo-ás por amor, porque te queres dar e porque tens ajuda. Consegui-lo-ás por Deus, se for Ele o senhor do teu coração.

Ninguém é tão veloz a criticar o que não conhece!

Assim é bem fácil e nunca perdes a oportunidade de dizer que fazias diferente. Talvez fizesses. Tantas vezes?! Não sejas gabarolas!

As tuas críticas serão mais verdadeiras se acreditares nas pessoas. Normalmente são boas, têm boa vontade e esforçam-se. Até têm qualidades! Como tu, emprestadas.

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