Tema: Caridade

Achas que agi mal. Dizes que terias feito diferente, escolhido outro caminho. Que o que é preciso fazer se faz. E pronto!

Põe-te no meu lugar. Vive o que eu vivi, nas mesmas circunstâncias, rodeado pelas mesmas pessoas, com a mesma capacidade e ânimo.

Nem sempre agi bem, tu julgaste sempre. Umas vezes acertando, outras injustamente. Nunca na minha pele.

Não tens de julgar, não te compete, não tens informação. Nem tens a justiça e a misericórdia de Deus. Mas precisas de tema de conversa...

Trata os outros como gostarias de ser tratado. Nunca to disseram porque não sabem o que pensas, nem ouvem os teus sussurros.

Tens mesmo graça. És criativo, oportuno, sagaz e atento. É um dom de Deus que deves fazer render, mostrando a todos a alegria verdadeira.

Mas precisas de mais delicadeza para que as tuas piadas não magoem. Apanhas logo as fraquezas do outro e consegues que todos se riam... dele!

Podes brincar, sim. Mas também podes ser delicado e perceber quando o próprio não acha graça. E parar logo, mudar de assunto, retirar dele a atenção.

Deus sorriu com aquela piada inesperada e inteligente que, por caridade, não mandaste.

Tinha que ser agora, era o momento ideal. Fizeste planos, estavas entusiasmado com a expectativa... E não deu. Vai demorar tempo.

Deste muitas horas, empenhaste-te como em nenhum outro projeto, tinhas uma certa segurança de que daria... E falhou. Precisava de mais dedicação.

Estavas a lutar bem, um longo período sem quedas. Animado com a ideia de deixar um problema para trás... E caíste. É preciso voltar ao início.

Estás farto de lhe dizer, já conversaste com calma, já lhe deste razões... E ele não muda. Ainda não consegue.

Com paciência verás muito mais frutos: maduros e colhidos nos tempos de Deus. Espera.

A imperfeição escandaliza-te. Comentas, corriges, cortas, limpas. Não tens a mínima preocupação por ser simpático, acolhedor ou compreensivo.

Representas a justiça divina do alto da tua cultura religiosa. Não falas de outra coisa que não os pecados dos homens, que julgas sem conhecer. Cansas!

Eu conheço alguns dos meus pecados: quero e tento evitá-los. Mas o medo de Deus que me inspiras não me ajuda em nada. Não peço que chames bem ao que é mal, peço que me ajudes.

Essa postura escrupulosa não te ajuda nem a ti. E fez-te esquecer a caridade mais simples.

Disse Jesus que devíamos perdoar sempre.

Não quando nos pedem perdão, nem quando o aceitam. Não quando reconhecem o erro, nem quando prometem não o repetir. Não quando é fácil, nem quando todos perdoam. Não quando fica bem perdoar. Não para esquecer e tirar um peso de cima.

Sempre.

Já viste como o mandamento do amor é novo?

Sabias mais do assunto e deixaste que te explicassem, és bem mais amigo daquela pessoa e deixaste outro contar as notícias, conhecias mais pormenores mas ouviste com atenção quem falava entusiasmado.

Querias desabafar mas ele desabafou primeiro e consolaste-o, tinhas o mérito mas foi dado a outro e aplaudiste.

Podias ter o protagonismo e calaste-te para dar o lugar, como quem recebe uma novidade. Que bonito esse silêncio! E que contentes ficaram tu, eles e Jesus.

Não é Deus, és tu!

És rápido, duro e mordaz a julgar. Para ti é tudo fácil, sabes sempre como o farias, conheces a intenção das pessoas e a verdadeira motivação de cada um. Falas com firmeza e com o frio sorriso da ironia. Classificas e dás sentenças como júri do mundo e da vida.

Já sei que queres ter graça. Mas essa postura justiceira é desagradável: serás temido antes de ser estimado. E, sobretudo, faltas à caridade, afirmando o que não sabes e culpando inocentes.

O mundo não melhora quando os outros fazem o que dizes, mas quando tu fazes o que diz Deus. Não julgues.

Como te correu mal o exame, faltaste às aulas da tarde. Como o teu clube perdeu, podes ser mal educado. Como ajudaste ontem, hoje ajuda outro.

Como tiveste uma tristeza, tens direito a uma alegria. Como doeu, tens direito a um prazer. Como fizeste bem uma coisa, podes fazer outra mal. Para cada virtude, um pecadito.

Não era por amor que vivias? É que essa lógica de direitos está bem longe da generosidade gratuita de quem ama. Não és capaz de dar.

Compensações? Espera-as só de Deus.

Se não resistes aos impulsos mais vulgares, se és incapaz de recusar um prazer, se te deixas levar por qualquer apetite, se o gosto ganha sempre ao dever... não és senhor de ti próprio.

E enquanto não cresceres nesse domínio pessoal, será muito difícil amares alguém. Porque não consegues entregar o que não possuis.

Sim, tens que crescer em fortaleza, resistir às tentações, educar os apetites e ser fiel. Consegui-lo-ás por amor, porque te queres dar e porque tens ajuda. Consegui-lo-ás por Deus, se for Ele o senhor do teu coração.

Ninguém é tão veloz a criticar o que não conhece!

Assim é bem fácil e nunca perdes a oportunidade de dizer que fazias diferente. Talvez fizesses. Tantas vezes?! Não sejas gabarolas!

As tuas críticas serão mais verdadeiras se acreditares nas pessoas. Normalmente são boas, têm boa vontade e esforçam-se. Até têm qualidades! Como tu, emprestadas.

Somos assim! Sabemos bem o que devemos fazer ou corrigir, mas ajuda que alguém puxe por nós, nos recorde o caminho e lute connosco. E, ao contrário, que fácil é desviar-se quando se está só.

Por isso é tão importante pedir conselho na vida espiritual, a alguém que , conhecendo o caminho e o caminhante, nos guie até Jesus.

Se chegas lá sozinho? Talvez. Mas, se não precisas, porquê tentar?

Vemos à nossa volta muita miséria humana: mentira, ódio, preguiça. Talvez maior entre os que mais amamos.

Será cristão virar as costas e afastar-se?

Um amigo tem que ser pai algumas vezes. Avisar, corrigir e guiar pelo bem do outro.

Se perante o erro "deixas andar", terás as mãos bem limpas. E o coração cheio de ti.

***

Alinhas em todos os planos ou és capaz de dizer que não concordas com alguns?

Consegues manter-te coerente num ambiente que não dá importância à moral?

Antes de planeares uma reforma eclesial, pensa que estas palavras são dirigidas a ti.

Queres todos na Igreja? Mesmo os que não te querem? Encontras espaço para os maus e para os violentos? Há lugar para mim?

Não é por moda ou modernice que cabemos na Igreja. É porque Deus enviou o Seu filho ao mundo para a salvação de todos. Vamos ajudar-nos todos, um a um, a perceber que precisamos de ser salvos!

***

Fazes teus os sentimentos de Cristo, que se entregou por cada um de nós? Acolhes qualquer pessoa, como o faria o próprio Jesus?

Reconheces os teus pecados com simplicidade, e acreditas que Deus os perdoa quando te confessas arrependido? Agradeces a Jesus ter subido à cruz para te obter esse perdão?

Não te queixes! Que és sempre tu, que mais ninguém faz, que suportas tudo, que levas o mundo para a frente...

O teu exemplo será bem eloquente para os preguiçosos. O teu sorriso também. O teu silêncio mais ainda.

És tu quem ganha quando ajudas. Se ainda não o percebeste, é porque podes ajudar mais um bocadinho!

Quando dizes que não podes amar mais, já não amas.

***

Desanimas quando fazes coisas boas e mais ninguém as faz? Porque os outros te preocupam ou porque queres que te valorizem?

Estás convicto de que te enobreces quando te entregas?

Alegremente, sem se deter pelo caminho a contemplar o que largou.

Ontem não abraçaste ninguém. Mas puseste a mesa e deitaste-te tarde a ouvir um chato.

Nas obras concretas de serviço -pequenas, discretas- está a medida do teu coração. Muito mais que nas teias confusas do sentimentalismo.

Consolação: o serviço abre-nos os olhos para compreender como Jesus nos ama.

***

Tens iniciativa em casa para fazer o que qualquer um podia ter feito? Fazes com um sorriso, discretamente e sem o atirar à cara dos outros?

Estás disposto a dar o teu tempo às pessoas irritantes, complicadas, orgulhosas, maçadoras ou egoístas?

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