Tema: Oração

A oração hoje está a custar-te. Não tens nada para dizer e os textos nada te dizem.

Olhas para o relógio, respondes a uma mensagem que é urgente (ou tão breve que não conta como interrupção!), deixas-te vencer pelo sono, pensas nas tarefas do dia, apressas as palavras, desenhas no caderno (mas um símbolo religioso!), suspiras, vês as notificações, desistes.

Não desistas.

Insiste, leva essa oração, com esforço, até ao fim. Não deixes que a relação com Deus dependa dos teus apetites ou do consolo que te traz. Fica. Como um bom amigo.

Insistes nos planos, companhias e locais que puxam pelo pior de ti. São ocasiões de pecar e, normalmente, pecas.

Ninguém notava se faltasses, mas não o queres largar –não dás tanto a Deus!– porque achas que és tu quem deve crescer na fortaleza: outros vão e não caem.

E tens uma teoria bem construída sobre a proximidade a esses sítios onde Deus não está e onde, supostamente, O levarias. Mas acontece o contrário: é ali que esqueces Deus.

Deixa a teoria nas mãos Dele. Talvez seja preciso lá ir, mas talvez seja de outro modo. E talvez não sejas tu, que és forte para muita coisa, mas ali tremem-te as pernas. Pôr Deus em primeiro, tem consequências.

Até ficas envergonhado! Parece que a imaginação escolhe os momentos menos convenientes para ir buscar as coisas piores. Estás na Missa, a rezar, na companhia de alguém de quem gostas, a ouvir coisas importantes, em paz, em algo sério... e passam-te pela cabeça os pensamentos mais vis, ou mais baixos, ou mais feios.

Choca-te que, perante a beleza de Deus e dos outros, sejas capaz de olhar, com um mínimo de atração, para tudo o que é feio.

Não te preocupes. Tenta, com simplicidade, que a imaginação ceda ao teu domínio. E sem inquietação volta ao bom que tens diante.

E não ligues muito: tu não és o que te passa pela cabeça.

Quer mais estar contigo, que tu com Ele. Quer mais vir à tua alma, que tu recebê-Lo. Quer mais falar-te, que tu ouvi-Lo. Quer mais perdoar-te, que tu recomeçar. Quer mais que venças, que tu lutar.

Queres muito Deus? Ele ainda mais. Queres pouco? Deus nunca deixa de te procurar.

Mostra só um bocadinho de vontade e vais ver que Ele pode tudo.

Esse passo de entrega não é para ti. Dizes, humildemente, que não te achas à altura, que não tens o talento.

É mesmo isso? Ou é falta de generosidade? Saber que estás à altura mas não querer abraçar a entrega pelo esforço que implica? Não estar disposto a largar os teus tesouros? Esconder o talento com medo de ser visto a falhar?

Aqueles que se entregam não se acham à altura, mas sabem que Deus o está. E tentam.

Do momento ideal, da pessoa ideal, do trabalho ideal, do contexto ideal. Passou o tempo e, com ele, momentos, pessoas, trabalhos, contextos... reais.

Pensas bem mas és demasiado idealista. Complicas muito e fazes pouco.

Cede. Não será perfeito, mas será bom. Não será o ideal, mas acontecerá.

Não te dará segurança, mas Deus sim.

Diante do sacrário, estou a sós com O amigo, por excelência. Mas… não sinto essa intimidade! Se for para desabafar ou pedir conselho, prefiro falar com alguém: um familiar, um amigo, até mesmo com um sacerdote.

Sabes porque não tens essa intimidade? Porque a vossa relação, a depender de ti, não existia. Deste tudo por garantido. Nunca te sentiste verdadeiramente impotente. Nem experimentaste pôr Deus em primeiro lugar e viver abandonado a uma única vontade.

Mesmo agora, és tu à força que queres progredir na vida interior. Desce do pedestal e faz um propósito: daqui em diante, não darás um único passo sem Deus. Nem que tenhas de dizer-Lhe - “Não Te ouço!”.

Na vida espiritual, as coisas nem sempre acontecem como nas disciplinas científicas, em que nós vemos e agimos em conformidade. Muitas vezes, a luz para ver é simultânea à força para querer. Porque o nosso eu está metido ao barulho até mais não! Tem hábitos e inclinações, que custam despedir e, por isso, ofuscam a vista.

Isto dá que, para discernir a vontade de Deus, é preciso trabalhar antes de mais a disposição para acolhê-la. Fazer-se pequeno, minúsculo, ínfimo. Abrir mão das nossas seguranças. Pedir tudo. Confiar. Numa frase, repetir em confidência: “o que Tu quiseres, quando Tu quiseres, como Tu quiseres”. E então soará claramente o apelo divino.

As regras também!

É que, iluminadas por Jesus e pela relação com Ele, acabarás por ter pena de não as cumprir. Não chega ler as instruções se o autor as quer explicar. Não chega compreender se são para amar.

Por isso, persegue essa atração. Precisas tanto de doutrina como de oração. De cabeça, como de coração. Passa tempo com Jesus, falando, ouvindo, pedindo, louvando. Conhecendo-O.

E já agora, se Deus é Deus, bem que pode fazer regras. Sorte a nossa que as tenha feito tão leves de cumprir. Por amor, nada pesa.

–De nada!, respondeste. E com propriedade porque, de facto, não tinhas rezado!

Está sempre a acontecer-te: aceitas com simpatia o pedido de orações e não te lembras sequer de fazer uma prece.

Mais do que simpatia, aceita o pedido com fé. E reza logo, nesse instante, mesmo que só com um olhar interior a Deus.

Depois escolhe momentos e modos de rezar diariamente pelas intenções que tens. No fim da Missa? Oferecendo o trabalho? Rezando o terço? Antes de dormir? Podes ter uma nota no telefone (bem atualizada!) com a lista daquilo que importa pedir.

Não desprezes os meios sobrenaturais. Com mais perseverança do que espontaneidade.

–Mal encarados! Tenho eu agora que aguentar o mau humor dos outros? Que culpa tenho que o dia lhes corra mal. Isto é modo de se falar?!

Olha, há gente com vidas difíceis, que luta muito, que sofre o que não imaginas. Há gente magoada, ferida injustamente e remetida ao silêncio. E há gente egoísta, birrenta, que quer ser o centro do mundo.

Pedindo a Jesus a Sua mansidão, sorri a todos eles. Talvez deixes do outro lado um pouco de luz, ou uma ponta de vergonha por aquela vaidade.

Ajudas, não te chateias, e aprendes que, quando for a tua vez, também podes fazer boa cara.

Todos me falam do importante que é ouvir a voz de Deus, escutar aquilo que Ele diz, conhecer a Sua vontade… E dizem-me que o descubro na oração. Mas quando vou rezar não ouço nada! Ou só me ouço a mim. Como é que Deus fala?

Como? Com tudo o que tem, com tudo o que há à disposição: acontecimentos, pessoas, frases, sorrisos, meteorologia, gostos e inclinações… Deus está sempre a falar! Mas nós só percebemos o que é que Ele quis dizer, aqui e ali, quando nos pomos na Sua presença. E nunca percebemos tudo, nem de uma só vez! Também não tem mal, não é isso que importa: ao Senhor bastam-Lhe a nossa boa vontade e o desejo livre de O procurar.

Sem certezas para o futuro, sem planos a funcionar, sem solução à vista para o que agora te pesa. Parece que Deus te pede tudo, toda a segurança, toda a confiança, todo o consolo. Porquê tu?

Sempre estiveste assim, desamparado. A diferença agora é que Deus deixou que o sentisses. Sem Ele não podes encontrar o equilíbrio, não há segurança. Não tens amparo.

Mas Deus chama por ti: desce depressa do teu refúgio, das tuas coisas. E sobe comigo à cruz.

É o teu ponto de apoio.

É a única que fazes. Por isso, não sei bem o que procuras. É a companhia das outras pessoas? É a música que te agrada? É ser visto com ar devoto? É cumprir uma obrigação?

Às vezes a oração é difícil, árida e exigente. Se é Jesus quem procuras, também nessa perseverarás.

Agradece a Deus os tempos consoladores. E os outros também, esforçando-te por permanecer fiel aos Seus pés. Fala do que preferias esconder, ouve o que querias desconversar ou deixa-te estar, simplesmente, repetindo: amo-Te.

Mas nunca, nunca desistas de rezar.

Aqui, confortáveis, a perder tempo no Instagram, passa-nos ao lado o sofrimento de quem vive em guerra. O que nos chocou ao início, com o tempo torna-se indiferente.

Mas, para um cristão, não pode ser indiferente a dor de ninguém.

Que Jesus nos dê um desejo grande de paz, para nós e para os outros. E conceda ao mundo inteiro a paz que mais ninguém pode alcançar.

*

O Papa pediu que nos unissemos a rezar pela paz. Hoje rezando o terço, amanhã com um dia de jejum e oração.

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