Há muito que pensas entregar-te, dar o teu coração inteiro. Tens diante de ti um panorama imenso, bom, repleto de alegria.

Mas não tens a certeza. Pode não ser o teu caminho, pode ser um entusiasmo passageiro, pode ser uma ilusão, pode ser muito difícil, pode ser depois, pode ser para outros.

Pois pode.

Mas também pode ser Deus. E pode ser que não tenhas outro momento tão belo, com a mesma disposição, com tanto para dar, com tanto pela frente. Já pensaste, já rezaste, já perguntaste... só falta decidires. Agora?

Que fácil dizer mal dos outros! Não com rancor, mas com sentido de justiça, exigindo.

Podiam ser mais atenciosos, mais delicados, mais comprometidos, mais esforçados. Deviam ser. E vivemos socialmente dececionados.

No meio de tanto lamento, esquecemo-nos de nós, do nosso carácter! Quantas vezes não fomos descuidados, bruscos, levianos, preguiçosos? Nem sabemos. E que falta faz recordar!

Olha para ti, examina a tua vida e pede perdão a Deus por essas faltas de amor. Depois exige-te, tira propósitos. "Sê o que queres que os outros sejam e verás que já o são."

Foste embora. Ficaste desiludido, magoado, escolheste outro caminho. Voltar?! Já tiveste o suficiente de vida cristã, não te deixas enganar outra vez.

Como queiras. Mas, pelo menos, questiona a certeza de já teres sido suficientemente cristão. Põe em causa a ideia de que estiveste muito próximo de Deus, de que não tens mais a descobrir.

Porque é provável que tenhas. É provável que a tua fé tivesse muito que crescer. Como a tua oração, a tua amizade com Jesus, a tua disposição de dar a vida por Ele.

É difícil conhecer Jesus e não amar a Sua Igreja. Já O conheceste? Volta a perguntar.

É uma boa pergunta. Mas não vale a pena procurar uma fórmula. Falou-nos o próprio Verbo de Deus e condenámo-Lo à morte.

Falarás de Jesus se tiveres a convicção de que todos O procuram e que Ele próprio conta contigo para Se dar a conhecer.

Terás esta convicção se estiveres apaixonado. É essa a fórmula!

A tecnologia aperfeiçoou a tua impaciência. Habituaste-te a ter tudo à mão, pronto em segundos, instantâneo. Já é pouco o que tens de fazer: encontras feito, saltando o processo.

Mas o processo também te constrói. Além de fazer, fazes-te. Observas, aprendes, compreendes, contemplas. Vês algo novo a nascer das tuas mãos e saboreias o resultado de modo diferente.

Aproveita a tecnologia que traz eficácia ao teu trabalho. Mas não temas ser ineficaz se começas a querer imediatamente o que não deve vir já pronto. Namorar, contemplar, conhecer-se, dominar o carácter, ser santo... dão uma trabalheira! Como tudo o que verdadeiramente importa.

O pedido de Nossa Senhora em Fátima foi simples e claro. Em todas as aparições pediu para rezarmos o terço todos os dias.

Mas não tens tempo... Claro que tens! Se o podes rezar numa viagem, a caminho da faculdade, se o podes seguir pela rádio ou num podcast, se podes reservar o mesmo tempo que reservas para coisas importantes.

Mas não consegues estar atento... Claro que consegues! Se te esforças, se combinas rezar com alguém, se meditas os mistérios, se pões intenções nessa oração.

Mas não te ajuda muito... Claro que ajuda! Se confias na piedade simples, se não procuras uma oração sofisticada, se rezas com fé e amor.

Reza hoje. E amanhã, e depois...

A paróquia, o movimento, a missão, os 3 campos de férias, o grupo mensal, o voluntariado, as peregrinações, os coros, os eventos, os projectos... Estás em mil coisas católicas, todas muito boas, todas ligeiramente diferentes.

Fazes bem em todas elas. Mas o que te faz bem a ti?

Não estás comprometido em nenhum lado (nem daria, não podes ter tempo). Não conheces a fundo nenhum desses caminhos (por muita admiração e amizade que lhe tenhas). Não trabalhas (deste prioridade à agitação social). E confundes oração com atividade.

Não tens dado a Jesus nenhuma exclusividade, andas disperso e baralhado. Escolhe o que quiseres, larga o resto.

O bom pastor vê que lhe falta uma ovelha. Sou eu. Põe-se a caminho e rapidamente me encontra. Fico contente: estou onde quero e o pastor veio cá ter.

Mas diz-me que temos de ir embora! Que o sítio não é bom e que me posso magoar. Eu reclamo: acabei de chegar e estou cansado. Mas, por isso, acabo por deixar que me leve aos ombros.

Porque não pude ficar ali? Às vezes penso que Deus é bom pastor porque vem ter comigo onde eu quero estar. Como se não houvesse um rebanho, uma casa, um caminho. Como se importasse mais seguir-me do que a Ele.

E aos Seus ombros, por um caminho mais belo que o da minha fuga, percebo que andar com Ele é bem melhor. Por muito atrativos que fossem os atalhos.

Estás muito preocupado pela paz no mundo, falas com apreensão das zonas de conflito, indignas-te, querias mexer-te, fazer qualquer coisa.

Mas na reunião de condóminos és um franco-atirador. Disparas em todas as direções, destróis, estudas o inimigo, desenhas planos de ataque. E não farás nada pela paz começando uma guerra no teu prédio.

O Papa falou de paz. Procura-a primeiro dentro de ti: só Deus dará paz à tua consciência. Depois à tua volta: a paz que transmites quando vives para os outros. Depois na reunião do condomínio. E no trabalho, nas filas de espera, no trânsito.

Não acredito que te preocupem lá longe, se aqui vais desprezando os feridos.

Nas suas primeiras palavras como Papa, Leão XIV desafiou-nos a caminhar com ele "sem medo, para proclamar o Evangelho, para ser missionários".

Começa já hoje. Uma sexta-feira igual às outras, com a diferença de termos um novo Papa. Que se note a tua alegria. Que vejam, no teu trabalho ou turma, como estás contente. Di-lo com naturalidade.

Soa estranho? Estranho é que uma fé com tanto peso na tua vida, apareça tão pouco na tua conversa.

Com Cristo, sem medo. Queima-te.

Obrigado por teres aceitado a missão de nos guiar.

Ainda não te conhecemos.

Não importa. Em ti vemos Pedro, a quem Jesus confiou a tarefa de nos apascentar. Não somos um rebanho fácil, mas o Espírito Santo fará que nos conduzas, juntos, ao Seu redil.

Conta connosco.

Há gatos bem cuidados. E velhos também. Há velhos abandonados. E gatos também.

Entendo o teu empenho em cuidar dos gatos. Mas não entendo a indiferença em relação aos velhos. Não há um único animal à frente de uma pessoa.

Cuida do gato se te der pena, se estiveres ligado, se for companhia. Cuida do velho porque é um dos teus. É sempre.

Custa mais, complica a vida? É o que estás chamado a fazer: servir. Pensa onde podes ajudar e começa, pensa o que podes prever e prepara-o.

Também há velhos que cuidam de gatos. Talvez disfarçando a pena de uma enorme solidão. Ajudamos?

Mudaram algumas circunstâncias da tua vida. E sem aviso prévio, foste desaparecendo. Não respondes, quando respondes és vago. Não apareces, nunca podes.

Deste lado ficou, primeiro, a ideia de que estavas chateado. Mas percebemos agora que estás com vergonha.

Talvez penses que não aprovamos o que mudou na tua vida. Ou que te vamos apontar o dedo, ou pedir contas. Ou até que já não estás à nossa altura.

Desculpa se foi a ideia que passámos.

E responde. Tem de ser possível conversar, faz falta a proximidade dos amigos. Não chutes a porta que deixamos aberta para voltares.

Estamos na semana de oração pelas vocações.

Não precisas de rezar para a ter, porque já a tens. Não precisas de rezar pela quantidade, porque não são os números que importam.

Reza, sim, para que mais e mais gente veja o que Deus lhe pede. E se entregue com amor a esse caminho de felicidade. E seja fiel ao que prometeu, até ao fim.

É verdade que o número descansaria um pouco. Descansa em Deus que nos pode fazer santos. E vais ver que os números se compõem!

Jesus, estou sempre a pesar a minha imagem. A estragar as coisas boas que me dás, por medi-las com o orgulho, contando os elogios, pedindo que me amem.

E não quero perder os Teus dons por não ser agradecido, por não reconhecer que sou um incapaz e que Tu podes tudo.

Muda-me. Que eu viva por Ti, sem contaminar, com o amor próprio, a Tua glória. Que viva na Tua sombra, alegrando-me com o que Te alegra, procurando o que Te dá gosto.

E que fuja das coisas aparentemente boas que me afastam de Ti.

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