Senhor, conheces os meus sonhos e projectos, sabes o que gostava de fazer e onde preferia servir-Te. E volto a pedir-Te por isso.

Mas podes pôr-me onde fizer falta, pedir-me o que achares melhor. Sei que me darás a graça para o cumprir. A força e a luz para o levar a cabo. O ânimo para desfrutar.

E que mais posso desejar que a Tua divina vontade?

Como não deves? Tudo te foi dado! A vida e os talentos que tens, as oportunidades que aproveitaste ou deixaste passar, as alegrias e a esperança. Tudo dom.

Se não reconheces a tua indigência, nunca acolherás o amor de Deus, nem a necessidade que tens dos outros.

Não serás agradecido, não serás humilde.

E serás, provavelmente, bastante insuportável.

Andas a rezar com gosto. Esperas com sede esse tempo de conversa com Jesus e notas que ilumina todo o teu dia. Ninguém te conhece como Ele e gozas com o que aprendes de ti mesmo.

Não fiques por aí. Não centres a oração apenas em ti.

Centra-a em Deus. E, com Ele, sai em busca dos outros, dos que amas, dos que queres aproximar de Jesus, dos bons projectos que há por fazer, das intenções de toda a Igreja.

Quão longe? Podes ir até ao Céu e percorrer o mundo inteiro.

É verdade!

Vai a meio. Já fizeste alguma coisa? O teu propósito ainda está de pé?

Não tens de contar sacrifícios, nem um número de boas ações. Mas tens de insistir no esforço por te aproximares mais de Cristo.

É um tempo de graça que Ele, Jesus, te quer conceder. Recomeça hoje a luta, sem paranóias mas com generosidade. Bem disposto a acolher a proximidade que Deus tanto deseja mostrar-te.

Tens no coração o bom desejo de levar a mensagem de Cristo a todos, sem exceção. Mas meteste na cabeça a ideia de que, para o conseguir, deves aguar essa mensagem, tirar-lhe radicalidade, omitir o que choca.

Por isso, não dizes nada. Só o que é simpático e consensual. Até gostam de ti, mas quando se ouve o que dizem todos, tanto faz quem se segue.

Não desfigures o rosto de Jesus, não mudes a Sua mensagem. Muda tu: em compreensão, em generosidade, em simpatia, em caridade. E em coragem! Assim poderás chegar a todos, dizendo tudo.

Não tens tempo para Deus. A vida é intensa, o trabalho imenso, a família absorvente. Não consegues parar para rezar.

Tens boa vontade e vais tentando lembrar-te do teu Senhor ao longo do dia. Podes encontrar Deus nas tarefas e azáfama habituais.

Mas também notas que te fazem falta os tempos dedicados exclusivamente a Ele. E que, com um pouco de ordem, conseguias rezar um terço, visitar Jesus numa Igreja ou ler um pouco do Evangelho. Antes de tudo? No tempo de almoço? No fim?

Se não encontras tempo para as coisas importantes, perdes-te no urgente. Que às vezes nem o é! Só uma mistura de perfeccionismo, desordem, vaidade... e desculpas para o que te apetece.

Dás muito valor à tranquilidade. Defendes-te do stress, nunca reages a quente, aprendeste a parar para pensar no passo seguinte. Tens os teus truques.

E isso é muito bom! Mas ainda não tens paz.

Agora contentas-te com ser uma pessoa calma, mesmo que fervas por dentro. Preferes fugir das complicações a enfrentá-las. Foges das grandes perguntas para que não compliquem a tua vida. Nunca arriscas nada com medo de perder a tranquilidade.

A paz é de Deus, que te diz quem és e como te ama. Muito mais que um auto-controlo, é deixar-se levar. Para o mar calmo ou para o mais agitado: se Ele estiver na barca, terás a Sua paz.

Tens técnicas apuradas para a oração, encontraste um modo irresistível de apresentar Jesus, sabes como a Igreja se deve posicionar, és profissional nas tuas iniciativas apostólicas, tens uma estratégia para mudar o mundo.

E deixaste de confiar no poder de Deus.

Já não contas com milagres, não esperas pelo sobrenatural, não confias na petição, já não te prostras, não vives de fé. Se a tivesses como um grão de mostarda...

Não te esqueças que é em Deus que acreditas. Aquele que te pede todo o esforço humano de que és capaz para O servir é o mesmo que pode resolver tudo sem que mexas uma palha. Só para lembrar.

Fazes coisas admiráveis. Recebes imensos elogios e contam muito contigo.

Mas tu sabes que podes fazer tudo isso por vaidade, para que te louvem. Sabes que o podes fazer atropelando todos ou para que não sejam outros a fazê-lo. Sabes que o podes aldrabar sem que alguém note. Sabes que o podes guardar com egoísmo, sem ensinar e fazendo que dependam de ti. Sabes que podes perpetuar a tua opinião, sem ouvir ninguém. Sabes que há outras coisas que devias ter feito e não fizeste.

Como já sentiste um pouco de tudo isto, pensa onde podes corrigir a tua intenção. Não basta fazer coisas boas: é preciso fazê-las bem. Com Deus.

Aquela pessoa de que todos fogem porque é maçadora, inoportuna, insistente, inconveniente ou ridícula, encontrou em ti um pouco de caridade. E agora não te larga.

Perdes tempo. Mas incomoda-te mais o desgaste da tua imagem: que te associem ao estilo, que pensem que és igual ou que só consegues amigos destes, que não és do grupo dos fixes!

E o que importa o que pensam? Se o teu coração é de Cristo, há lugar para todos. Não para os aturar: Deus pede que os ames e sirvas. Desta vez, sem receber nada em troca.

Não te queixes. Talvez tu sejas essa cruz para outros!

Com estes defeitos e misérias? Com os erros que cometi? Com o bem que desprezei? Com as escolhas erradas do meu passado? Com os maus desejos do meu futuro? Com as oportunidades desperdiçadas? Com o mal que guardo no coração? Com esta incapacidade de perdoar?

Sim. Deus ama-me.

É o grande anúncio desta vida. É o que leva querer mudar tudo aquilo. É o único motivo de uma paz certa: não haverá nunca nenhuma razão para duvidar do amor de Deus por mim.

E que diferença isto faz!

A tua vida era segura. Boa no que fazias, feliz nos resultados, alegre entre amigos, serena em casa, risonha no futuro.

Mas cresceste. Aceitaste desafios e assumiste responsabilidades, entregaste o coração e deste o teu tempo, escolheste amar. E perdeste o controlo.

O futuro é incerto, as pessoas imprevisíveis. Duvidas de ti, da tua saúde, da tua virtude. Não dispões do teu tempo, tens medo de falhar.

Mas Deus é o mesmo. E, para teres segurança, pede que te abandones. Faz o que podes. Ele fará o que sabe.

É claro que tens lutas, com vitórias e derrotas. Mas isso é diferente de escolher ser diferente em momentos diferentes! Só para ficar bem.

No trabalho és atento, em casa não. Em casa és católico, com amigos não. Com amigos tens estilo, na igreja não. Na igreja és comprometido, na noite não. Na noite tens energia, para ajudar não. Ao ajudar és crente, no Instagram não.

Qual deles és tu? Já sei que o ambiente é difícil mas, se não escolhes ser coerente, aceitas ser traidor. Se te dizes católico, mostra-o.

Jesus pediu colo a São José, pediu que O consolasse e que O levasse à Sua Mãe. Pediu-lhe a mão quando estava escuro.

Pediu-lhe o que estava alto e onde não chegava, pediu-lhe que Lhe ensinasse o que ainda não aprendera, pediu-lhe a força que ainda não tinha.

Pediu-lhe água quando teve sede, pediu-lhe ajuda quando trabalhou, pediu-lhe segredo quando fez uma surpresa. E um abraço quando chorou.

Pede como Jesus. José dar-te-á como ao Menino. E fará que te dês como ele se deu.

Vivemos de olhos postos em modelos inalcançáveis. Gente cheia de sucesso, pessoas com dinheiro, beldades, sortudos, influencers...

Na verdade, ainda bem que são inalcançáveis, porque muitos são os que trocaram a família pela carreira, a verdade pela popularidade, a responsabilidade pelo sonho, a saúde pela fama. Qualquer coisa pelo sucesso.

Não! Não sou melhor que nenhum deles. Mas se perderes uns meses a conhecer as pessoas da tua paróquia, estou certo que encontrarás modelos próximos e discretos, vidas admiráveis que podes –deves!– imitar. Procura entre os que dedicam tempo aos outros. Ou entre os pobres e doentes.

Põe os olhos em gente entregue.

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