Há muitas receitas que resolvem partes da tua vida. O plano de treinos funciona, a dieta funciona, os exercícios de respiração funcionam, a aplicação funciona, a rotina funciona, a meditação funciona, o yoga funciona... E a sensação de estares a resolver, uma a uma, todas as tuas necessidades, distrai-te da que verdadeiramente interessa.

Quem és tu? O que estás aqui a fazer? Por que tens de morrer?

Não deixes de procurar a verdade. Ela existe com luz suficiente para quem a quer descobrir. E importa mais que as soluções parciais que vais desenrascando.

Talvez algumas receitas ganhem mais sentido, talvez percebas que outras eram enganos. Talvez aceites que não há receita para tudo. Melhor: há Deus.

Tenta aceitá-la.

Empenhamo-nos muito em tentar acabar com a dor. Às vezes bem, usando a ciência para dar mais qualidade de vida aos que sofrem. Às vezes mal, fomentando uma cultura de descarte que nos livra do peso imediato para nos fazer sofrer mais tarde.

Não vamos acabar com a dor.

Olha para a Cruz. Unido a Cristo, não deixarás de sofrer, mas podes encontrar a alegria.

Não te julgo, não sei o peso que carregas. Sei que Deus nunca permite o que não podes suportar. Sem Ele, é mais difícil.

Ou Deus existe, ou não existe.

Ou Jesus é Deus, ou é um homem como outro qualquer.

Ou há vida depois da morte, ou acaba tudo num instante.

Ou Cristo ressuscitou, ou é um impostor.

Ou a Eucaristia é o corpo de Jesus, ou não é mais do que pão.

A verdade não deixa de o ser por tu não acreditares. Não dá para ficar no meio. Podes afirmar a dúvida mas, na prática, ou vives como se Deus existisse, ou como se não existisse.

E se for tudo verdade?

Com boa intenção, procuras ajudar quem tem dificuldades. E para não pesar ainda mais, assumes a postura de quem não tem problemas. Parece que a vida te corre sempre bem.

Não estranhes se a tua ajuda for mal recebida. É que é difícil estar tanto com um sortudo, quando se está cheio de azar. Não se partilha uma carga com quem nunca teve uma. Não se estraga uma vida fácil.

E como não é verdade que não tenhas problemas, essa postura bem intencionada também soa falsa. Um verdadeiro amigo seria mais sincero. Como tu podes ser.

Não ajudas quem está mal por estares bem. Ajudas porque precisa, porque podes, porque tentas compreender. E porque tu próprio pedes ajuda. Assim sabes como ajudar.

Tens dúvidas. Inquieta-te a decisão a tomar. Não compreendes o que aconteceu. Querias certezas.

E Jesus em silêncio. Como na barca agitada pelo vento, como diante da mulher que queriam apedrejar.

Já tiveste a Sua luz noutros apertos. Agora não diz nada. Nem sequer sabes por que se calou.

Talvez te peça que sejas tu a falar. Que não deixes de implorar a Sua ajuda, não o tempo que tu quiseres, mas o tempo que Jesus te pedir. Que confies na promessa de que estará sempre contigo, ainda que não O ouças agora.

Ou que estejas mais desprendido e atento. Talvez esteja só a falar baixinho.

Eu já sabia, eu avisei, como eu tinha dito, eu costumo dizer, se ouvisses o que eu te digo, se me tivesses perguntado, eu sei do que estás a falar, então não sei?, eu conheço perfeitamente.

És muita chato! Quando fazes uma boa acção avisas toda a gente, para os poderes ensinar!

Há outras expressões que podes usar mais: obrigado, bom trabalho, gostei muito, parabéns, desculpa, o que achas?, precisas de ajuda?, força, posso sugerir?

E também podes ficar em silêncio.

Eu já sabia, eu avisei, como eu tinha dito, eu costumo dizer, se ouvisses o que eu te digo, se me tivesses perguntado, eu sei do que estás a falar, então não sei?, eu conheço perfeitamente.

És muita chato! Quando fazes uma boa acção avisas toda a gente, para os poderes ensinar!

Há outras expressões que podes usar mais: obrigado, bom trabalho, gostei muito, parabéns, desculpa, o que achas?, precisas de ajuda?, força, posso sugerir?

E também podes ficar em silêncio.

Achaste que o sucesso viria da imagem perfeita. Levaste anos a trabalhar o teu modo de falar, as tuas expressões particulares, os tiques ligeiramente excêntricos que te distinguem. Perdeste horas com o estilo, a figura, a personagem tantas vezes representada que acabou por ser natural.

E descobriste que os outros fogem da falta de autenticidade. Investiste tanto na aparência, que não tiveste tempo para aprender a servir, a conversar, a trabalhar, a pedir ajuda, a ler... Só sabes representar.

Recomeça. Liberta-te do peso do disfarce e enche-te do que é autêntico. Estuda, ajuda, ouve, lança-te, forma-te. Tens mais para ser do que aparentar.

Isso é próprio da idade média, estamos no século XXI, o mundo evoluiu...

Volta e meia dizes uma coisa destas. Muitas vezes com razão, algumas sem qualquer sentido. É que, por algo ter sido costume há 500 ou 1000 anos, não se pode deduzir que já não o deva ser.

Hoje, como desde que o mundo é mundo, a lealdade é um valor, a coragem uma virtude, a família é o fundamento, o amor é o que mais desejamos. E não te passaria pela cabeça dizer que são valores antiquados. Espero...

Admito que desdenhes do que é antigo quando é meramente técnico. Mas os temas morais (ou os técnicos quando os implicam) não os podes atirar para dentro de baús.

Justifica-te. Talvez bata a saudade do antigamente.

Prefere a santidade a todos os teus projectos. Põe a vontade de Deus acima dos teus sonhos. Luta pela tua vocação mais do que pela carreira, pela saúde, pela imagem, pelo dinheiro.

Decide que Deus tem o primeiro lugar na tua vida e que dele dependem as outras decisões. Procura-O como a motivação de toda a generosidade.

Escolhe viver de amor, dá esse testemunho, queima-te. E essa luz chegará a todos os recantos do teu dia. Por exemplo: larga o telemóvel e vai trabalhar!

Podes e deves guardar uma boa memória daqueles que amas e que já morreram. Preserva o que foi bom, guarda as recordações mais gratas, conta os melhores momentos.

E, precisamente porque os amas, não deixes de rezar pela sua alma. A caridade agora não está só nos elogios: podes ajudar a encurtar o seu tempo de purificação no purgatório, se ainda o necessitam para gozar de Deus. Sem dar por adquirido que já estão no Céu.

Reza pelos que morreram, oferece a Missa por essa intenção, pede orações. São preces que voltam a ti com o agradecimento daqueles que ajudaste a chegar ao Céu. E não há viagem pela qual valha a pena rezar tanto.

Tens? Talvez pareça que não precisas. Em segundos, o ecrã dá-te uma ideia tão bem cozinhada e defendida, que passas por especialista no assunto.

Não defendes propriamente o que pensas, defendes o que é mais fácil de decorar, a frase que mais impacta. Repetes as ideias de outros sem perceber se fazem sentido. E como não tens tempo para pensar, nem consegues perceber por que não fazem sentido.

Pensa, dá voltas aos temas, estuda, pergunta, forma a tua opinião. O apelo pela verdade tem de ser mais forte que a preguiça, ou que o simples gosto pela vitória.

Pensa nos transportes, num passeio, ao adormecer, no banho. Ou reserva hoje algum tempo para pensar nesse tema. Só. Uma hora não é muito.

Contribuis para uma indústria que explora as pessoas.

Normalizas a violência sexual.

Vicias o teu olhar sobre os outros.

Perdes capacidades para construir amizades.

Acreditas numa narrativa falsa.

Desprezas um dom que Deus te deu.

Fechas-te ao amor.

Afastas-te da realidade.

Perdes a auto-estima.

Ficas triste.

Podes não ver. Pede ajuda.

Não és famoso. Mas tens uma vida social consoladora. Gostam de estar contigo, procuram-te para conversar e contar coisas pessoais, convidam-te porque fazes o ambiente, a tua opinião conta, és sensato, tens talento, simpatia, graça... Que bom!

E tentas parecer desprendido dessa imagem, mas contas muito com essa segurança, descansas na ideia que os outros têm de ti. Quando és chamado a ficar bem, estás sempre disponível.

Só que em casa és bem mais frio. E por dentro mais hipócrita. Achas-te superior àqueles que ajudas. Com Deus estás pouco porque não te elogia e te pode tirar o palco. És capaz de fugir ao teu dever para ouvir mais um agradecimento.

Estás num lugar privilegiado para mostrar Jesus aos outros. É pena que acabe tudo em ti.

És bem tranquilo. Às vezes por virtude, outras porque evitas a todo o custo qualquer tipo de confronto. Mesmo quando devias fazer valer os teus direitos, mesmo quando tinhas obrigação de corrigir, mesmo quando o bem do outro exigia firmeza na tua posição.

Cedes sempre e em tudo para não teres ninguém contra ti. E isso não é caridade, nem humildade. É comodismo.

De início vais corar um bocadinho. Mas tens de ser capaz de dar opinião, de escolher, de exigir, de assumir livremente a tua personalidade.

Ou serás o frouxo que perde sempre. Primeiro em coisas sem importância. Para se perder, depois, a si próprio.

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