Tema: Vaidade

Evitas algumas pessoas e temas. Não te vão apontar o dedo, mas sabes que trazem um certo desconforto porque te recordam o que podes dar e não dás, o que devias largar e não largas. E tens vergonha.

Não fujas. Essa pressãozinha que sentes vai ajudar-te. E eles também.

Se tudo e todos te dissessem que estás bem assim e não tens nada a mudar, ficarias a meio do caminho.

Têm boa impressão de ti. Contam contigo para muitas coisas. Para alguns até és uma referência.

Mas tu conheces-te. Sabes que tens misérias e que não és metade do que te pintam. E sentes-te a representar um papel, com medo de uma tremenda humilhação se o descobrirem.

A verdade é que és bom ator. Tens algum gosto –até talento!– para o fazer. Por isso, é bom que Deus te mantenha consciente de que és pobre, não vá subir-te à cabeça o aplauso da plateia.

Dá-te a conhecer com simplicidade na confissão e no acompanhamento espiritual. E sempre que a vaidade reclamar para si o papel principal, diz ao Senhor que queres agir bem sempre e só por Ele.

Agora deves servir nesse palco. Não és estrela nenhuma, mas não há mais ninguém!

É bom ter amigos que não te dizem apenas as coisas que gostas de ouvir. Que evitam que faças má figura, que te avisam quando vais por maus caminhos. Rodeia-te deles. Fazem mal à tua soberba, mas, a ti, só te fazem bem.

As coisas boas que não são o teu dever mas apetecem mais. As oportunidades de ficar bem que se tornam prioritárias. A intenção retorcida de desejar ser importante para os outros em vez de te preocupares sinceramente por eles.

A vaidade é matreira! Sem deixar de fazer o que está certo, diz sempre a Jesus que o fazes por amor. E, sempre que puderes, fá-lo sem que se veja e sem que te possam louvar.

***

Será que, à conta de ajudar amigos, não metes os pés em casa?

E não será vaidade todo esse desejo de ser importante para os outros?

Transformas-te a fazer compras. Um entusiasmo que não tens para mais nada, justificações racionais que não costumas usar no resto, e a ideia angustiante de que a tua vida depende do que vais comprar.

Até me ofendes! Parece que isso é mais importante do que eu.

O que ganhas com tantas coisas? Status? Conforto? Ficas mais bonito? Falam de ti? Se isso não vale nada...

Estás preso no que possuis. Não consegues verdadeiramente entregar-te a Deus. Não és capaz de te dar aos outros.

Ainda és tu que tens a chave.

Tens enormes talentos. Alguns a que ainda dás pouco valor, outros escondidos à espera de se revelar, outros ainda que desconheces e que só os outros veem, sem nada te dizer.

São dons de Deus, que assim te fez para O servires e encontres a verdadeira felicidade, que não está em simples elogios. São ferramentas para o teu serviço aos outros. São luz que aponta para Cristo.

Não fiques vaidoso. Mas não serias humilde se não reconhecesses os teus talentos. Ser humilde não é viver encolhido, não é ser pouco audaz, não é ser pessimista.

É ser mais como Maria: entregue, fiel, agradecida. Reconhecendo que, pelas mãos de Deus, podes fazer grandes coisas. Maravilhas!

Não ligues tanto à imagem. Descansa nas mãos de Deus, que te ama bonito ou feio, mais ou menos perfeitinho.

Assim saberás olhar para os outros do mesmo modo. Sem te afastares de ninguém por ser menos popular ou atraente. Sem medo dos doentes, dos velhos, dos pobres.

Desprende-te da imagem. Prende-te às pessoas. E quando os teus lindos olhos deixarem de brilhar, estarás rodeado dos que, como Deus, continuam a achar-te lindo

Os que fazem mal as coisas, que afastam as pessoas, que prejudicam a Igreja. Que não são verdadeiros discípulos de Cristo porque se procuram a si próprios. De quem é preciso desconfiar mesmo quando rezam o credo. Sabes?

Pois não devias saber! Porque não devias dar esse rótulo a ninguém. Muito menos àqueles com quem tens que trabalhar para levar a todos o Evangelho.

Não! Não tens que aceitar os erros, não tens que adaptar a tua exigência à dos outros, não tens que fazer do mesmo modo. Mas tens que unir, alegrar-te com os bons frutos, falar bem ou calar. Sem invejas.

E se te parece que algum vai por maus caminhos, não te irrites, ajuda. Com amizade e sinceridade. Não te ouvem? Nem tentaste! Bocas e ironias não são tentativa.

Somos poucos para o mundo. É um disparate lutarmos um contra o outro!

E depois nada!

Sei o que está mal e o que deve mudar. Tenho remédios para o mundo e para os outros. E para mim! Mas na hora da verdade, custa a mexer, há boas desculpas.

Gostamos da exigência e de sonhar em grande. E ficamos surpreendidos por sermos fracos. Quando acontecer, faz um pouco de exame. Agradece essa luz, faz um acto de contrição e recomeça. Desta vez com propósitos mais à medida: para hoje, para aqui.

Assim avanças. E cresces em humildade.

Eu sei que não é por mal. Mas não reparas porque estás sempre a olhar para o teu umbigo.

E chegas atrasado, e desmarcas em cima da hora, e esqueces-te. Precisas de alguma coisa e queres 30 pessoas a fazê-la por ti. Estacionas mal e os outros que esperem. Tentas sempre passar à frente. Falas por cima, interrompes, mudas de assunto. Bocejas, espreguiças-te, desligas. Sempre na tua. Não vês ninguém. Chocas com as pessoas. Até fisicamente!

Muda o chip: olha. Há mais gente à tua volta.

Não precisas de mais um fato de banho. Não precisas de outro refrigerante. Não precisas de almoçar a preço de turista. Não precisas de mais net. Não precisas da quinta cerveja. Não precisas de encomendar o que podes fazer sozinho. Não precisas de três bolas de Berlim. Não precisas de sair todos os dias. Não precisas de outro gelado.

Desfruta do verão com o que tem de excepcional. Mas não exageres. Não estamos dispensados da pobreza quando ela custa!

Estás com bom aspeto! O verão fica-te bem!

Mas não é preciso pensar tanto nisso! Chegas a apreciar os dias de férias só por teres dado nas vistas. Avalias o verão pelo número de elogios. E passas horas preocupado com a imagem: se apanhaste sol, se tens aquilo para vestir, se estás forte, se és visto, se a fotografia ficou bem...

Pensa menos em ti. É necessário para conseguires pensar nos outros, para os servir, para os alegrar, para lhes mostrar Deus.

É que um verão sem Deus e sem obras de serviço... não presta!

*

Olá outra vez! Já cá estamos!

Não és, não! Estava a gozar! É Deus, que se fez um de nós.

É verdade que Ele te ama como se não existisse mais ninguém. Mas é melhor deixares o centro para os outros. Não é preciso mais orgulho que o de ser filho de Deus.

O do quarto, o da sala, o da casa de banho, o do elevador. O reflexo no vidro dos carros, das portas, das montras, das paragens de autocarro. A minha própria imagem na reunião online, a selfie nº 34 de 76, a fotografia de verão em pleno inverno. Saber como olham para mim. Garantir que não há motivos de riso e que os há de admiração. Contemplar-se. Adorar-se. Ser visto.

Ficas irritado quando te chamam vaidoso? Tens uns espelhinhos para partir...

Finges que não viste e que não sabias. Finges que te esqueceste ou que não ouviste. As pessoas aceitam as tuas razões: nem desconfiam do fingimento.

Mas, com tantas fugas, também não dás motivos para que alguém confie em ti.

Não finjas! Sê verdadeiro. Reconhece que foste preguiçoso, ou envergonhado, ou irresponsável, ou fraco. Pede desculpa.

E não queiras ser bom a fingir. Às tantas finges que cresces, finges que tens amigos, finges que serves... e só tu não percebes que é a fingir!

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