Tema: Amizade

Que estou aqui por minha conta, que sei tudo, que tenho muita força, que não preciso de ninguém.

Ou que é melhor não incomodar, que ninguém se importa, que ninguém quer ajudar.

E, mesmo que desse, por que razão quereria fazer tudo sozinho? Para ficar com o mérito só para mim? Para me destacar dos outros? Para ganhar a corrida?

Qual corrida? A que importa, corre-se em equipa.

É estranho, para dentro e para fora, quando não sabemos trabalhar juntos na Igreja. Puxa cada um para seu lado. Queres liderar, dar o tom, deixar o teu estilo, prevenindo todos contra o modo de atuar dos outros.

Ainda por cima, quase tudo o que criticas é porque ouviste dizer. Não conheces, não perguntas, não ouves, não queres saber.

Eu sei que tens boa intenção. Mas precisas de mostrar outro empenho na unidade: lutar por ela. Falar, conhecer, perceber dos próprios o que outros criticam e procurar ocasiões para juntar esforços.

Sermos um. Para que o mundo conheça Quem nos envia.

Tens um no trabalho. Conhece-lo bem! Aquele jeito... a ti não te engana. Fazes questão de prevenir todos contra ele. Contas uma história triste, referes os principais defeitos. Tentas contrariar sempre que ele fala, mandas abaixo porque ele fez. Se fez mal mostras a todos, se fez bem desacreditas.

Os que te ouvem já dão o desconto: é uma obsessão tua. Talvez tenha havido alguma coisa ao início, mas agora é só uma mania, um modo de ver viciado, uma ferida que manténs aberta porque te consola. Não vais encontrar apoio, nem razão: não a tens, ele não é o demónio e não tem nada contra ti. Até parece melhor que tu.

Humilha-te, admite que é egoísmo e aprende a ver com olhos novos: os do perdão. E do bom senso.

Agradeço que mo digas. Mas não chega. Ainda não percebeste que não estou a conseguir largar?

Dá-me razões, explica-me como se larga, diz-me a que me devo agarrar. Os argumentos de autoridade já os conheço bem. Não mandes: acompanha-me, anima-me, ajuda-me.

Eu conheço a lei de Deus. Queria conhecer agora o Seu amor. Poderei contar com a tua paciência?

Estás presente? Ouves o que te querem dizer? Acompanhas os assuntos que os preocupam e te confiam? És discreto com as coisas que te contam?

És capaz de os chamar a atenção quando vês algo que não está bem? A sós?

Tentas estar com eles? Tens iniciativa? Ou fomentas aquele desejo vaidoso de que sejam os outros a procurar-te?

Rezas por eles?

Mais do que vida social, precisas de amigos. E como dão trabalho!

–De nada!, respondeste. E com propriedade porque, de facto, não tinhas rezado!

Está sempre a acontecer-te: aceitas com simpatia o pedido de orações e não te lembras sequer de fazer uma prece.

Mais do que simpatia, aceita o pedido com fé. E reza logo, nesse instante, mesmo que só com um olhar interior a Deus.

Depois escolhe momentos e modos de rezar diariamente pelas intenções que tens. No fim da Missa? Oferecendo o trabalho? Rezando o terço? Antes de dormir? Podes ter uma nota no telefone (bem atualizada!) com a lista daquilo que importa pedir.

Não desprezes os meios sobrenaturais. Com mais perseverança do que espontaneidade.

Não te dás com qualquer um. Até deixas de te dar com quem davas, se te estragar a imagem, se te retirar status, se deixar de ser útil.

És muito amável e disponível com os contactos interessantes, os que conhecem gente, os que se movem nos círculos que tu invejas e dos quais gostarias de presumir.

Rodeias-te de gente do teu nível e sonhas que esse nível suba.

Espero que um dia descubras que um amigo é melhor que um degrau. E te disponhas, com simplicidade, a servir qualquer um.

Eras tu quem estava atento e presente, quem reparava no que faltava. Adivinhavas necessidades e inventavas surpresas. Custava-te menos o cansaço do que deixar alguém por cuidar.

Mas agora invertem-se os papéis: é necessário que te deixes cuidar. Com abandono, sem reclamações, sem ensinar. Sem veres humilhação na vulnerabilidade, como não vias quando eras o cuidador.

Não és um peso, és um tesouro. Sê dócil.

Ouviste? Lá está ele com as indiretas. Porque é que não me diz na cara? Outra vez esta conversa? Viste como olhou? É para magoar.

É que ele nem sequer se lembrou de ti. Estás obcecado –humilhado talvez–, tudo anda à tua volta e em tudo vês ataques. Que ninguém lançou.

Não te admires que comecem a evitar-te: é preciso medir cada palavra ao falar contigo.

Perdoa, esquece e segue em frente. É o normal!

É bom teres gostos, é importante teres hábitos, é exasperante teres manias!

Estás agarrado a coisas sem importância e dás peso a pormenores que os outros não conseguem valorizar.

Ficas nervoso, inquieto e desconfortável. Respira fundo e não digas nada: é mania tua! O que eles estão a fazer é perfeitamente normal.

Não para te vangloriares como se fosses um gangster!

A quem contas as quedas que te envergonham? A quem explicas as tuas fraquezas, para que te ajude a lutar? Com quem abres a alma depois de um trambolhão?

Primeiro na confissão.

Mas também te ajuda ter um bom amigo que te ouça, que te anime e que exija de ti o que podes dar. Continuará a custar-te falar das asneiras, mas o caminho é mais difícil se o tentas fazer sozinho.

Alguém à frente de quem possas chorar à vontade, sem defesas nem disfarces. Não é lamechice, é amizade. Precisas, precisas...

Desculpa, não te falei. Desculpa, falei muito tempo. Se calhar estavas à espera de outra coisa, não expliquei bem. Expliquei demais, não foi? Fui um bocado rude. Devia ter sido mais firme. Se calhar preferias diferente. Estive pouco contigo. Estive muito contigo. Talvez não gostes. Fui chato? Estou a ser chato?

Não aguento tanto cuidado! Agradeço as atenções, mas perguntas tantas vezes se agradaste que só queres ouvir a aprovação. É amizade ou querer ficar bem?

Já sei que és inseguro. Há mais segurança no desprendimento: não perguntes.

Novos amigos no verão. Entraste bem no grupo, começas a estar à vontade, achas que gostam de ti... mas veio à conversa um tema difícil, que põe em causa a tua fé e as tuas escolhas de vida.

A tua opinião é diferente do resto, não tens a certeza de a saber defender, temes perder a cabeça e -pior!– que passem a olhar-te com desdém.

Tenta. Reza ao Espírito Santo e fala com simplicidade e amizade. Por Deus e por eles, não para salvar a tua imagem.

A verdade atrai, o exemplo move.

Que facilidade em cortar relações! Esperas dos outros uma sintonia de opiniões, gostos e modo de ser que não existe. Toda a gente acaba por discordar de ti, dizer algo que não gostas, contrariar-te. Ou, simplesmente, ter uma saída infeliz sem sequer se dar conta. Tu ouves e guardas, riscas da tua lista. Às vezes sem ter acontecido nada: deduzes pelo olhar, concluis pelos silêncios!

Já reparaste que não tens amigos antigos? Que, por um motivo ou outro, te afastaste de toda a gente?

Uma boca ou uma piada infeliz não valem uma boa amizade. Tens de ser capaz de as ouvir sem dar tanta importância: não és o centro do mundo. Quando for preciso, falas com franqueza do que te incomoda, perdoas e esqueces.

Assim ofendidinho vais acabar só.

Aprende a rir-te de ti próprio. Dessa solenidade que pões em tudo e da preocupação constante por ficar bem.

Com bom humor dás ânimo aos que estão à tua volta, evitas preocupações com problemas imaginários e revelas aos outros um pouco da alegria que levas dentro.

Ri-te! És filho de Deus! Podes esquecer-te de ti próprio e pensar primeiro nos outros. Não tens de ser muito engraçado, mas encontrar graça em tudo o que te é dado.

Sorri. Estás a ser cuidado!

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