Tema: Humildade

É sempre!

Não foste nada claro, mas ele é que não percebeu. Não atendeste mil vezes, mas ele é que te recusou uma chamada. Não te empenhaste, mas eles muito menos. Não aceitas críticas, mas ele é que tem a mania. Não estudaste, mas eles é que dão imenso trabalho.

Procuras sempre justificações, nunca responsabilidade.

Com um pouco mais de humildade podias, pelo menos, ser realista. Dava para ir corrigindo o que é, obviamente, culpa tua.

Ainda que sejas líder e tenhas talento para isso, vais errar e fazer mal algumas coisas.

Não o escondas, não sejas teimoso, não inventes desculpas. Domina o orgulho, admite o erro e pede perdão.

Sim, perante a equipa e aqueles em quem mandas. Não terás qualquer autoridade se não vês na liderança um serviço.

Também se és pai, mãe, polícia, professor, padre, mestre, capitão... apóstolo!

E em princípio és fraquinho, com asneiras infantis e quedas grandes. Tens pouca resistência à tentação, cedes assim que custa, sofres pouco por Jesus.

Confia mais na Sua força, sabendo que também tu tens de escolher Deus. E essa escolha exige um esforço.

Por isso, deves evitar as situações que são uma tentação para ti, só porque o são. Não é nada de errado, os outros estão tranquilos, toda a gente o faz... mas tu cais. Então, sê prudente e não vás. Não é melhor isso do que trair o Senhor?

Amas Deus? Mostra lá.

Não caia no erro de se citar muitas vezes, fica mal. Fale de si com desprendimento, como se fosse necessário referir aquele feito ou virtude. Dê a entender que haveria mais a dizer de si próprio mas que, por humildade, prefere calar.

Se conhece o assunto ou a pessoa de que se fala, nunca deixe de o dizer. Mas não domine a conversa: basta deixar cair algo que o mostre.

Quando puder, diga o que lhe confere autoridade: que mandou, que esteve muitas vezes... Calar-se-ão para o ouvir.

Não diga tudo, faça-os perguntar. Seja o centro, ouça-se.

E viverá cada vez mais triste.

Ouviste? Lá está ele com as indiretas. Porque é que não me diz na cara? Outra vez esta conversa? Viste como olhou? É para magoar.

É que ele nem sequer se lembrou de ti. Estás obcecado –humilhado talvez–, tudo anda à tua volta e em tudo vês ataques. Que ninguém lançou.

Não te admires que comecem a evitar-te: é preciso medir cada palavra ao falar contigo.

Perdoa, esquece e segue em frente. É o normal!

Tens mais cabeça, mais amigos e mais dinheiro. E não desprezas ninguém, mas na verdade achas-te uns furos acima dos outros: mais limitados, mais estranhos, mais pobres.

Do alto das tuas qualidades, és condescendente e paternalista e finges estender a mão para que se cheguem a ti.

O que é mérito teu?

És um privilegiado. Estás bem tramado se não fores humilde!

Destacas-te como bom cristão, sabes mais, rezas mais, tens outra postura e, aparentemente, mais fé. Não duvido: se corressem todos na mesma pista, ganhavas.

E então?! És o melhor do grupo? Não o sabes, não é o que procuras e não é -não deveria ser- o que te move.

O que te pede Deus? Que dons te deu? Como és generoso? Quanto confias? Quanto te parece suficiente?

O teu amor a Deus pode crescer sempre. Se te orgulhas por amar mais do que outros, já começou a diminuir.

Bonito, forte, com saúde. Modelo de trabalho e de vida social. Rijo e meigo. Eloquente e bom ouvinte. Entregue a cada um mas desprendido de tudo. Bem disposto, engraçado. Inteligente, cheio de doutrina e experiente na oração. Sempre reto, transparente. De família estável e futuro seguro. Educado, oportuno, atento. Piedoso, simples. Audaz e responsável. Cheio de amigos. Cheio de admiradores. Humilde...

Mas Deus não ama tipos ideais. Ama-te a ti.

O teu exemplo são os santos. Não o católico de catálogo, perfeitinho, que não existe.

* E com quem elas não vão casar!

Até fazes o que te pedem, mas com essa cara deixarão de te pedir.

Até aguentas as contrariedades, mas com tantas queixas que, para os outros, és mais uma.

Até cumpres o teu dever, mas com um ar tão sofrido que nem tu acreditas ser capaz de perseverar.

Podes fazer com boa cara o que te custa. Com um sorriso que o torne leve aos outros e a ti. Com a cara de quem tem gosto em servir, com a serenidade de quem vive agradecido.

Quem ama tem outra disposição. E vê-se.

Não vais estar em todas as festas de verão, não vais a todos os planos. Não vais ser convidado para tudo, não virão todos os que convidares. Não vão todos gostar de ti, não vais impressionar.

É que há gente que conta contigo. Tens família e amigos que deves ajudar a descansar, com o teu serviço e alegria. E não tens tempo, nem dinheiro para tudo. Nem vida interior.

Escolhe tempo de qualidade centrado nos outros, que fortaleça amizades e reforce os bons laços.

Nessa inquietação vaidosa de ceder à pressão social, é que vai mesmo passar-te tudo ao lado.

*"Fear of missing out", medo de ficar de fora, de perder eventos, informações, de não estar onde acontece o que é popular no meu meio.

Fazes-te rodear dos que sabem menos, dos envergonhados, dos que te acham graça, dos miúdos, dos vulneráveis, dos que te admiram... Para te destacares entre eles.

O problema não está em procurares os fracos, mas em fazê-lo para ser maior.

Procura para servir, corrige a intenção. Não permitas que te elogiem, foge do louvor, esconde-te, serve desinteressadamente.

E terás a coragem de ir ter com os fortes, os que conhecem a tua fraqueza, que te podem censurar, que são melhores e mais amados. Para, igualmente, os servir.

Todos.

A imperfeição escandaliza-te. Comentas, corriges, cortas, limpas. Não tens a mínima preocupação por ser simpático, acolhedor ou compreensivo.

Representas a justiça divina do alto da tua cultura religiosa. Não falas de outra coisa que não os pecados dos homens, que julgas sem conhecer. Cansas!

Eu conheço alguns dos meus pecados: quero e tento evitá-los. Mas o medo de Deus que me inspiras não me ajuda em nada. Não peço que chames bem ao que é mal, peço que me ajudes.

Essa postura escrupulosa não te ajuda nem a ti. E fez-te esquecer a caridade mais simples.

Quando ninguém vê, quanto pensas em ti? E nos outros? Quanto te vês ao espelho? Quão modesto és? Quanto tempo perdes a ver futilidades que te envergonham? Quanto perdes a formar-te? Quanto cedes à sensualidade? Quanto rezas?

Esperas pelas ocasiões em que podes dar espaço ao pior de ti? Como um alívio dos momentos em que representas para os que estão à tua volta?

O Deus que amas olha-te em todos os momentos. E espera de ti que queiras ser sempre o mesmo, porque vives sempre para Ele.

Deixa comigo. Eu sei, eu trato de tudo. Agora vai dar, já percebi como é que se faz. Não é comum mas acho que é o certo. Não é o que me aconselham mas eles não estão a ver bem.

Quando não ligas aos conselhos, quando queres vencer pelas tuas forças e ideias, quando queres ser igual aos outros... espetas-te.

Deus não desconfia de ti: conhece-te. Tu, que achas que te conheces, é que devias confiar em Deus.

E se fosses mais agradecido?

Agradece quem és, sem querer ser como os outros, sem querer ser o melhor.

Agradece o que tens, sem te preocupares com o que os outros têm e com o medo de o perder.

Agradece o que te é dado, sem a soberba de fazer tudo depender de ti.

Agradece quem tens ao teu lado, reconhecendo que não serias nada sem eles.

Agradece a Deus o que te deu e dá, com simplicidade e sem birras.

É que não mereces. Lembrando-o viverás muito mais alegre.

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